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 | Osvalter Urbinati
| Foto: Osvalter Urbinati

Se antes nasciam, morriam e embrulhavam peixe, matérias agora ressuscitam sem aviso e nos põe em suspensão no tempo.

Em setembro de 2013, uma história publicada na Gazeta apontava o desconhecimento público sobre o estado do Paraná e sua cultura.

Como uma fênix selada por Emiliano Perneta, há poucos dias ela assomou as redes sociais, ganhou novos comentários, teses, rendeu e-mails e tal e coisa.

Parece que a culpa do efeito borboleta retroativo é do poeta e tradutor Ivan Justen Santana. “Já foram seis compartilhamentos aqui, os quais por sua vez geraram mais quatro compartilhamentos, que por sua vez...”.

O fato é que, naturalmente, nos interessamos pelo que é nosso. Mesmo quando a notícia é velha ou mexe com brios e egos alheios.

No meio da semana, o zumzumzum paranista foi por causa da banda Faichecleres, símbolo do rock impudico local do início da década passada.

Tratamos do assunto: o trio volta hoje aos palcos (Espaço Cult, 22 horas) para relembrar as músicas não menos despudoradas do disco “Indecente, Imoral & Sem Vergonha”, de 2005. Os comentários não demoraram: “Feichequem!! Uma das piores bandas que já passaram por Curitiba e vocês querendo ressuscitar [sic]”, escreveu Luciano. “Esse cenário musical de Curitiba é uma piada! Além de nada despontar por aqui temos que ficar ouvindo ‘a volta dos que nunca foram!!’”, asseverou Daniel.

A Faichecleres era mais conhecida pelo folclore que envolvia seus integrantes, e que era levado ao palco com fidelidade, do que propriamente pela relevância da música que compunham. Mas a banda foi representante fiel de uma época, e meio que a ponta-de-lança de toda uma onda.

No começo dos anos 2000, a Trajano Reis ganhava fama, os bares ao redor abriam suas portas para outros grupos locais que divulgavam seu rock cru e retrô no extinto Myspace. Tudo isso foi importante.

Já passamos por quebra-paus homéricos quando o assunto é “a cena local”. Falar ou não falar? Criticar ou silenciar? A capa do Caderno G, aliás, virou tema de música da banda Lívia e os Piá de Prédio, comprovando, ainda que com ironia, a importância da atenção de jornalistas para o que é produzido por aqui – falem mal, mas falem de mim.

É conhecido o bairrismo do Rio Grande do Sul, que às vezes faz com que o adjetivo “gaúcho” seja preponderante para definir o que é ou não notícia.

A coisa é tão escancarada que ganhou até um jornal satírico próprio, “O Bairrista”, onde se lê “Pesquisa revela que pau de selfie dos Gaúchos é maior que dos brazileiros” [sic].

Por motivos que passam pela idade do estado e pela falta de identidade cultural, não somos bons em bairrismos.

Apesar dos chineques e dos pinhões, caminhamos (e produzimos) na escuridão: segundo a matéria ressuscitada há alguns dias, 43,7% das pessoas entrevistadas não sabem em que região do país fica o Paraná; e 49,6% não têm ideia de que a capital é Curitiba.

Por isso, a resposta para o quiprocó umbilical talvez seja simples. Se não falarmos sobre a Faichecleres e outras bandas que nasceram entre petit-pavé e araucárias, quem é que vai?

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