A Catalunha não é a Espanha, nem para quem vem de longe. Há outros cheiros, cores. Bandeirinhas patrióticas vermelhas e amarelas tremulam no céu azul de primavera, no aguardo do próximo plebiscito para a independência da região, em 27 de setembro. “Vai dar em nada, plebiscitos não adiantam mais”, diz relutante uma amiga que mora na cidade há quatro anos. “Mas a insistência deve servir para alguma coisa”, respondo, enquanto leio um cartaz, em catalão (ela me ajuda, obviamente), que diz: “Queremos um bairro digno”.
Aqui em Barcelona a política é tão popular quanto Neymar. Surge em manifestos pessoais e no resultado das eleições.
No dia em que cheguei, boa parte da cidade comemorava a vitória de Ada Colau, a prefeita eleita. Ela é, em resumo, uma ativista “antidespejo”.
Jornais daqui resgataram fotos de Ada sendo detida por policiais. E agora afirmam: é ela quem irá comandar nossa polícia. A causa tem respaldo. Em toda Espanha, mais de 350 mil famílias tiveram de deixar suas casas desde a crise de 2008.
Auda foi chamada de “nazi” por membros do partido conservador. E, em um perfil feito pela BBC, em 2014, disse o seguinte: “Não sou particularmente inteligente, não sou poderosa. Sou apenas uma pessoa normal, e é isso o que mais lhes preocupa. Isto é uma amostra de quanto poder os cidadãos comuns têm”. Dar vez a quem tem voz, parece ser mais ou menos isso.
Enquanto isso, la vida sigue. na terça-feira à tardinha um senhor de bigode entrava no seu apartamento de esquina acompanhado por um cachorro orelhudo, cor de mel. Quase a mesma cor de um drinque típico daqui, vermute rojo com ervas – é servido com gelo e rodelas de laranja.
À frente, uma senhora na cadeira de rodas tirava fotos de uma pichação na parede, enquanto um catalão barrigudo (vestindo camisa dos Misfits, bolsa e calças vermelhas a tiracolo), aterrissa ao meu lado.
Somos o que somos, mesmo quando não estamos onde costumamos estar.
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O Festival Primavera Sound começou na segunda-feira (25).
Na terça-feira (26), três shows aconteceram na Sala Apolo, casa “mística” de Barcelona.
Um deles foi da dupla franco-cubana Ibeyi – pense numa Björk filha de iansã cantando em iorubá ao som de um dubstep elegante. Fantástico.
Na quarta-feira (27), começaram as apresentações no Parc del Fòrum, principal espaço do festival. Tem Cinerama (banda de David Gedge, o supercara do Wedding Present); e Albert Hammond Jr., guitarrista do Strokes – seu projeto é menos datado do que o do patrão famoso Julian Casablancas. Fins Ara*.
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