As coisas andam acontecendo, é bem verdade. Mas não por inteiro. Em maio de 2010 houve um evento cultural estranho e inédito por essas bandas. Foi chamado de Curitiba 12 Horas, e levou gente como Mutantes e Blindagem aos desconhecidos Parque do Semeador e Parque Peladeiro, no Bairro Novo e Cajuru, respectivamente. Música e atividades artísticas por 12 horas em regiões desacostumadas a isso. Fornecer cultura a quem está quase sempre longe dela é primordial, mas, mesmo com a facilidade de transporte propiciada pela prefeitura, pouco se ouviu falar dos shows, da integração tão necessária com aqueles bairros periféricos. Não pegou. O otimista diria que "foi um começo." Ainda que pela metade.
Seis meses depois, aí sim. Como se tivesse passado por um test-drive, a Virada Cultural Curitibana aconteceu em novembro do ano passado. E foi um sucesso. De crítica, de público, que cantou com Paulinho da Viola, Erasmo Carlos e Pato Fu. São Pedro ajudou também e isso faz uma grande diferença quando falamos do esquizofrênico clima de Curitiba. Seguindo o que parece ser uma tendência há algum tempo por essas bandas sair de casa para viver a cidade, ainda que seja de cachecol o Centro de Curitiba foi ocupado por 24 horas. Uma beleza só, dividida em três palcos. Houve também a Corrente Cultural, que se instalou para valer em regiões mais afastadas e deu o que falar. Foi tão bacana que na última quarta-feira foram anunciadas as atrações da 2.ª Virada Cultural, que acontece nos dias 5 e 6 de novembro. Almir Sater, Jair Rodrigues, Copacabana Club e Ultraje a Rigor entre elas. Viva!
O caso da semi-virada e da virada por inteiro é emblemático e vem se repetindo em diferentes circunstâncias e momentos. Parece que não basta o conclame de quem utiliza a cidade, por assim dizer. Não importa a corrente que está aí, nas calçadas de petit-pavê da Rua XV, nas bicicletadas, em eventos nas Praças da Espanha da vida, no YouTube com os clipes mais bonitos da cidade. É sempre necessário um teste, uma "meia-alguma coisa" antes. Falta ousadia e senso de oportunidade para quem decide o quê e quando fazer. Para ficar no clichê, é como se ter uma casa de shows como a Pedreira Paulo Leminski e deixá-la às moscas.
Outro exemplo: semana passada um caminhão pintava uma faixa vermelha na Rua Marechal Deodoro. Descobri depois que se tratava de uma ciclofaixa. "Oba", comemorei silenciosamente, antes de descobrir detalhes do projeto: ela tem só quatro quilômetros, funcionará um domingo por mês, e com horário marcado: só se pode pedalar, ora, das 8 às 16 horas. Mais: fica do lado esquerdo da via, contrariando o Código de Trânsito Brasileiro, que recomenda ao ciclista pedalar do lado direito do tráfego. Em suma, é uma meia-ciclofaixa para passeios turísticos de risco.
Ela será inaugurada amanhã, já sob protestos. É mais um teste para ver se pega? Então quem sabe, como aconteceu com a Virada, daqui a algum tempo teremos realmente uma ciclofaixa que ligue pontos cruciais da cidade, e que sirva para o transporte, para desafogar o trânsito, enfim, e não para turismo em horário pré-estabelecido. Há que se testar, ao que parece. Seremos cobaias novamente.
Então, em uma conversa virtual sobre isso, um amigo músico e criei esse termo agora "pensador cultural" definiu: "Curitiba é uma cidade-coxinha." Porque é tudo pela metade. Se fosse uma pessoa, cumprimentaria os outros com a "mão mole", como se diz. O que é horrível. Não concordo com ele plenamente. Basta lembrar que, ainda falando sobre música, falta um cadinho de união dos "novos curitibanos" e atenção para os "velhos", que já deram sua contribuição para tudo que aconteceu de bom nos últimos tempos. A outra metade do todo, nesse caso, é mea culpa de quem reclama. Mas essa é outra história.
O fato é que há tempos deixamos de ser meia-cidade. De província, não há nada. Ontem assisti ao VMB e vi cinco artistas curitibanos entre os indicados. Dia desses conversei com um dos integrantes de uma banda da cidade e o papo foi melhor do que a maioria dos que já tive com medalhões da MPB. Há uma nova onda de bandas a ativistas da bicicleta, de artistas a blogueiros e (até) jornalistas que pensam Curitiba. Pensam por inteiro, e não pela metade.
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