| Foto: Biel Carpenter

O mundo pré-Natal é cheio de contradições, surpresas e peculiaridades. Por exemplo: por esses dias há aquelas cidras exibicionistas em balcões de supermercados (e agora farmácias!). As nozes e as tâmaras parecem se repartir por cissiparidade, assim como os damascos e as lichias -- frutas que, como a Simone, só lembramos que existem no fim do ano. Tendência moderna são os incríveis panetones gourmet, que mesmo sendo gourmet ainda insistem nas frutas secas, a pior invenção do homem depois do karaokê e daqueles ridículos sachezinhos de ketchup que nunca abrem.

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O período também é propício para micos fabulosos. Nessa época, na firma, todo recado público precisa necessariamente ser dado por alguém com um gorrinho vermelho, que é sempre menor que a cabeça do cidadão que o utiliza. Por isso fica meio de lado, sempre a escorregar, o que faz ligar automaticamente o botão "não me leve a sério", por mais que o assunto seja de vida ou morte.

Tão marcante quanto a São Silvestre é a cesta de fim de ano. Um imenso peru, queijos diversos, salaminho italiano e alguns outros mimos gastronômicos -- que só descobriremos que existem depois de abrir a sacola térmica em casa -- surgem de repente, para a alegria das geladeiras dos solteiros.

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Andar por Curitiba em época de Natal é uma aventura engraçada. Pode ser só impressão, mas os Papais Noeis, como quase tudo, parecem estar passando por um processo de coxinização. Não têm mais risada de monstro ou barba de verdade, como aqueles das antigas lojas Hermes Macedo – meu primeiro encontro com um Papai Noel foi tão traumático que o resultado foram choros ininterruptos e pesadelos que causariam tremedeiras em Grinch. Dia desses acompanhei a chegada de um exemplar de bom velhinho a um shopping, nossos pequenos inferninhos consumistas, os "vampiros da cidade", como esclareceu Cristóvão Tezza. Bexigas coloridas, faixas douradas estrambólicas, e renas de veludo (?) aguardavam o gordinho de vermelho (barriga falsa), que entrou magistralmente ao som de "É Preciso Saber Viver" na versão dos Titãs logo após o anúncio oficial, feito no sistema de som por um locutor que deve trabalhar também nos rodeios de Barretos.

Mas a sorte de fim de ano não vem só no pular das ondas ou no comer das doze uvas. Na última quarta-feira, à tardinha, um recital de violino em uma das sacadas do Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques, criava finalmente um clima bacana, nos fazendo esquecer por um momento a multidão com sacolas nas mãos e aqueles amigos secretos tão impessoais que te fazem comprar uma cerveja diferente (não tem que não goste) ou apelar para o pacote com três meias (segurança é tudo).

No banco da praça, uma senhora aplaudiu "Noite Feliz" e disse "é isso mesmo!", enquanto um mendigo esbravejou com seu cachorro algo incompreensível. O pré-natal anda chatinho. Mas é muito bom quando o Natal, época carrega esperança e melancolia na mesma medida, ainda nos consegue pregar uma peça, ligeira que seja.

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