Tomei um chá inca que deixa ver o futuro. E o xamã que me deu o chá pede que para alertar: um renegado xamã rival, amargando séculos de rancor, e eventualmente trabalhando de garçom, colocará outro tipo de chá numa convenção de gerentes de banco.
Vi, no futuro, que os gerentes não demonstrarão qualquer efeito do chá, que os imperadores incas davam a seus ministros para verificar lealdade, pois provoca irresistível sinceridade. Mas, no dia seguinte, já de volta a suas agências, com novas metas de lucratividade a atingir, os gerentes serão então atingidos pelo efeito do chá, em situações assim:
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Idosa: Meus netos dizem que posso pegar dinheiro aqui, porque eles estão precisando, e eu posso pagar em prestações com juro baixinho, é verdade?
Gerente: Mentira, senhora. Os juros parecem baixinhos, mas são os maiores juros do mundo para esse tipo de empréstimo sem risco, pois as prestações serão descontadas da sua aposentadoria. E, no fim das contas, a senhora pagará de juro um terço do dinheiro que pegou, educando os netos a serem malandros e parasitas.
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Comerciante: Obrigado pelo empréstimo!
Gerente: Não há o que agradecer, o senhor pagará caro por isso. Mas pode agradecer porque eu teria de lhe empurrar seguro de vida, título de capitalização ou qualquer outra exploração financeira, uma chantagem que o banco costuma fazer, mas eu não vou fazer mais.
Comerciante: Por quê?
Gerente: Porque o senhor pagará pelo empréstimo os maiores juros bancários do mundo. E já sofre como cidadão os efeitos dos juros nos orçamentos públicos.
Comerciante: É mesmo?
Gerente: É! De mais de trilhão que o governo federal arrecada por ano, mais de novecentos bilhões vão para rolar a dívida externa e interna, ou seja, vão para bancos! E, dos trezentos bilhões que sobram, quase tudo é pra pagar pessoal e despesa corrente, resta só meio por cento do orçamento para novas obras ou melhoria nos serviços públicos! Por isso vivemos com tanta fartura, como diz o caboclo: farta tudo! E pros bancos sobram bilhões, mas não contratam mais pessoal, por isso essas filas nos caixas! Por que o senhor não poupa em cooperativa de crédito para se auto-financiar em vez de ser explorado por empréstimo bancário?
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Alucinados pelo efeito do chá, gerentes percorrerão as filas diante dos caixas:
Bom dia, a senhora sabia que existem leis para atendimento digno nos bancos? Por que então se conforma em ficar de pé em fila? Sabia, meu senhor, que a lei manda os bancos darem senhas Um gerente até fará incômoda comparação:
Por que não se pode abrir nem um boteco sem sanitários, mas banco pode? E na propaganda os bancos são tão bonzinhos, mas na realidade não oferecem nem bebedouro a vocês, que sustentam o banco com seu dinheiro depositado aqui, sem ganhar juro, mas pagam juro altíssimo quando usam o cheque especial! Isso é usura, gente!
Um gerente muito religioso será cometido de ira santa:
Jesus expulsou os vendilhões do templo a pontapés! Mas vocês aguentam ser tratados assim, sem reclamar, como maus cristãos! Porque o verdadeiro cristão quer bem e perdoa, mas também exige mudança!
Gerentes até se postarão diante das agências a abordar os clientes:
Vai ao caixa automático? Vai trabalhar de graça, pagando tarifas e dando lucro ao banco, que só te dá desrespeito e desconforto, e para os bancários desemprego ou trabalho estressante!
Sob efeito do meu chá, vi que tais situações serão realidade se não forem tomadas providências. Pobres bancos!
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