Como são fascinantes as palavras! Os gregos gostavam de se reunir, iniciando a democracia com assembleias nas praças, e como até para lutar marchavam bem juntos, surgiram as palavras agregar, juntar, e agregado, aquele que vive junto de uma família.
Lembro de famílias que tinham empregadas agregadas, que começavam a trabalhar na casa, morando em quarto nos fundos, e acabavam se tornando parte da família. Nas fazendas era comum agregados de toda idade, desde moleques a anciãos, morando por perto e comendo na casa-grande, envolvidos no trato do galinheiro, do chiqueiro, da horta e do pomar, ou costurando ou bordando, fazendo doces e queijos, uma congregação doméstica enfim.
Idosas agregadas passavam a velhice puxando rezas, ensinando receitas, fazendo benzimentos, bordando colchas e redes. Ganhavam apelidos diminutivos: Vó Titinha, Tianinha, Nhá Belinha...
Os idosos agregados ensinavam os jovens a pescar, caçar, lidar com armas e arreios, bichos e ferramentas.
Mas, um dia, a cana azedou, o café geou, o algodão praguejou, as famílias rurais mudaram para as cidades, os agregados para as favelas. Advogados, falando numa tal legislação trabalhista, pediam "assine aqui que eu arranjo tudo", e patrões e agregados passaram a se ver só em audiências.
Nos novos apartamentos, nem há mais quarto de empregada, talvez até porque foram ficando tão pequenos que as paredes se encontraram...
Driblando a legislação e facilitando a arquitetura, as diaristas substituíram as domésticas.
Mas surgiu um novo agregado, não só nas casas como nas empresas. É preciso não apenas pedir seus serviços, mas ser amigo dele, dar-lhe gorjetas e agrados, para que não nos deixe desamparados na hora em que o computador pifa.
Ele às vezes não tem tempo de vir rápido, avisa que virá quando puder. Dois dias depois, a gente liga e ele diz que está vindo. No dia seguinte, diz que está chegando. Mais um dia, e ele chega, o "nosso" técnico da assistência, para examinar o computador como se fosse criança doente, diante de nossa esperança e aflição.
O tecnoagregado tem uma linguagem cheia de diminutivos como os agregados de antigamente:
É um probleminha no hard disc, dá pra dar um jeitinho com uma nova plaquinha de memória, mas o certo seria trocar por um pecezinho mais potente.
Aí o tecnogreg leva quatro horas para resolver o probleminha, olhando o relógio e resmungando que tem um monte de visitas esperando. A gente então supre o tec-greg com café, biscoitos, suco, e a promessa de trocar o pecê assim que der. Ele diz que é bom mesmo:
Por enquanto, dei um jeitinho mas...
Um amigo ousou dizer ao tegreg que, para evitar os problemas de instalação e adaptação, preferia dar a ele o dinheiro que ele ganharia vendendo e instalando um novo computador, e o tec ficou bravo:
A gente faz favor e ainda leva desaforo!
Meu amigo ficou desativado, sem-pecê sem-web, sem-press, sem-mail até arranjar um novo tec.
Agora, pede à mulher para chamar o tec com voz doce. E ele é recebido com café completo, inclusive sobremesa. A mulher lhe serviu doce de abóbora com coco, receita de uma velha agregada que nem chegou a ver estes tecnotempos, e assim, as épocas, pelo menos no espaço de um pires, se agregaram...
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