Era uma vez uma linda moça que se perdeu numa floresta, num dia de neve e vento, mas pensou que estava salva quando viu fumaça no céu.

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Era uma casa pegando fogo, os moradores deviam estar fora, então ela apagou o incêndio jogando neve. Depois entrou, apesar de a casinha ser muito pequena, e, de tão cansada, dormiu numa caminha onde precisava deitar encolhida.

Acordou com sete anões em volta da cama, três de cada lado e o mais velho na cabeceira –e ele perguntou quem era ela, o que fazia na vida, o que queria ali. Ela suspirou:

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– Não sei quem sou, mas me lembro que chamavam isso de amnésia. Não lembro o que fazia da vida mas, olhando minhas mãos, diria que não fazia nada. E o que quero aqui? Não sei!

– Pois bem – disse o velho anão. – Vamos te chamar de Branca de Neve. E agora você terá muito o que fazer, se quiser ter o que comer e onde dormir, e também para pagar os estragos que fez botando fogo e depois jogando neve em tudo.

Ela quis explicar mas já estava sendo soterrada de roupas por lavar.

Anos depois, Branca de Neve já estava envelhecida de tanto lavar e passar roupa, cozinhar, limpar caça e peixes, rachar lenha, fazer chá para sete a toda hora, costurar, inclusive botinas de couro curtido por ela mesma. E vivia dolorida porque, sempre encurvada, tinha de limpar e arrumar a casinha dos anões, onde continuava a dormir encolhida.

Os anões estavam gordos, pois deixavam para ela das plantações e colheita de frutas silvestres. E, uma vez por semana, um dormia com ela.

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Passaram-se mais anos. Branca de Neve já não conseguia mais trabalhar tanto, cuidar dos 14 filhos e ainda da contabilidade dos anões, que tinham enriquecido usando o tempo livre para fazer negócios. Um dia, ela teve um chilique e desabafou chorando, gritou que não aguentava mais!

Mas o velho anão disse que podia ser pior:

– Nós podíamos ser homens normais, altos, usando roupas grandes para você lavar e comendo muito mais. Dê-se por feliz!

Naquele tempo, há apenas um século e tanto, mulher não tinha direito algum, feminismo seria considerado bruxaria e ela apenas falou:

– Tá bom, fazer o quê?

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Foi chorar à beira do riacho, quando passou um homem bom, ouviu sua história e falou vem comigo.

– Mas como é teu nome?

– Coragem. Vem comigo. E o teu nome?

– Me chame de Mulher.

Montou na garupa do cavalo e nem olhou para trás. Remoçou com o novo companheiro, casaram e todas as mulheres modernas nasceram do casamento de Mulher com Coragem.

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