Chapeuzinho Vermelho conheceu o Lobo Mau pela internet, trocando idéias e gracinhas, descobrindo que tinham muito em comum. Gostavam das mesmas músicas, dos mesmos filmes que já tinham baixado, e até mesmo dos mesmos filmes do tempo em que ainda iam a cinemas. E, claro, mentiam um ao outro:
- Eu sou do tipo miúda – escrevia ela – mas o pessoal gosta de mim mesmo assim...
Ele se mordia de ciúme do “pessoal”, mas aproveitava para também mentir:
- Eu sou alto, forte, loiro, embora talvez gostasse de ser moreno para poder tomar mais sol.
Ela não perdia a deixa:
- Ah, eu não tomo sol porque tenho tanto o que fazer! Aliás, o que você faz?
Mexo com informação, dizia ele, e ela ficava pensando o que seria isso. Ele perguntava então o que ela fazia, e ela dizia que lidava com comunicação, e ele ficava pensando se ela não estava mentindo, digitava feroz:
- Você não está mentindo para mim, está?
- Claro que não! – ela respondia indignada – Mas sinto que você mente para mim!
Bem, disse ele, porque não se encontravam para tirar as dúvidas? Onde, perguntou ela. Ora, respondeu ele, num shopping, onde mais? O encontro seria numa loja de CDs, mas como saberiam quem era quem?
- Bem – ele digitou lentamente – eu estarei de óculos escuros, como convém a um lobo mau moderno, e você?
- Eu – ela digitou ligeirinha – estarei de chapeuzinho vermelho como na fábula...
Ela chegou à loja e ficou olhando CDs, apertando no bolso o gorro vermelho surrupiado do guarda-roupa da mãe, só colocaria na cabeça quando entrasse alguém de óculos escuros. E entrou, mas era um idoso que comprou logo um CD embrulhado para presente. Depois entrou ele, correu o olhar pela loja, viu que ela era a única ali, foi direto:
- Chapeuzinho Vermelho?
Gorro vermelho, ela corrigiu, colocando o gorro. Ele tirou os óculos, e tinha uns olhos que sorriam. Incrível, disse com uma voz levemente fanha, você é como eu pensava! E eu, disse ela com sua voz também fanhosinha, pensava que um lobo mau devia ser feio mas...
- Você é bonito, apesar de não ser nem alto, nem forte nem loiro!
- E você também não é tão miúda, somos da mesma altura!
Pois é, falaram juntos, e riram juntos.
- Você me falou que gosta de sorvete de pistache só porque é o sorvete que sua mãe tomava quando namorou seu pai, lembra? – ele perguntou e ela ficou com os olhos úmidos:
- Nossa, você lembra disso! É uma coisa que te contei logo no início do nosso... caso?
- Um caso que começou por acaso – ele suspirou olhando longe – Eu estava entediado, entrei no Face só pra encher o saco de alguém e...
Que nem eu, ela falou, e deram-se as mãos olhando nos olhos e...
Para encurtar a história, comeram-se por muitos e muitos anos ou, como eles gostam de dizer, para sempre.
Dê sua opinião
O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Deixe sua opinião