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A Fifa anunciou que estudava a proibição das vuzuzelas na Copa, mas acabou nada fazendo. E então, enquanto bilhões de pessoas tinham de ouvir aquele enxame de abelhas no televisor, quem pagou caro para ir lá ver os jogos ao vivo foi torturado pela vuvu-estupidez. Médicos alertaram sobre os danos auditivos, televisões reclamaram, esgotaram-se os tampões de ouvidos na África do Sul, mas a Fifa, em vez de exercer autoridade em nome do bom senso, da saúde pública e até em favor do esporte (pois as vuvuzelas impediam os jogadores de ouvir apitos do juiz ou instruções do técnico), a Fifa preferiu a democratite.

Democratite é tomar as decisões erradas para agradar a maioria. Como todo vício, planta-se sobre uma fraqueza, a fraqueza de autoridade com temor da impopularidade. Mas autoridades são eleitas para tomar decisões corretas mesmo que impopulares. O mesmo povo que vaia a decisão impopular é o povo que depois aplaudirá seus efeitos positivos. Ou como diz o caboclo:

– Se o povo soubesse se governar, não precisava de governo.

­­Em 1986, o 2.º Congresso Na­­cional de Escritores, em São Paulo, queria ser marco de redemocratização depois da ditadura, como o 1.º Congresso tinha sido em 1946 após a ditadura Vargas. Mas foi um fiasco, porque a palavra foi aberta a todos, sem qualquer critério, e logo tornou-se uma feira de vaidades em exibições de oratória, delírios e gracinhas. Quando se exibia pela terceira vez um sujeito tão gracioso quanto vazio, alguém perguntou que livros ele tinha escrito, e ele respondeu:

– Nenhum ainda, mas vou escrever!

Quando uma jovem foi estuprada recentemente em Londrina, por usar "pulseira do sexo", as escolas públicas democratiticamente debateram se não seria autoritário proibir as tais pulseiras. Enquanto isso, um colégio particular proibiu e passou a colher os frutos da decisão, que, sem receio de desagradar a maioria dos alunos, agradou os pais responsáveis.

A democratite flagela o Brasil, por exemplo, através do MST, que pratica banditismo e é tratado como organização social. Funcionários grevistas não têm dias descontados. A legislação trabalhista paternalista privilegia os trabalhadores em detrimento de justiça. A legislação penal permite tantos recursos que privilegia os criminosos.

A palavra democracia vem do grego: demo, povo; cracia, governo. Só funciona quando há liberdade e limites, quando as coisas são feitas em favor do povo, mesmo que ele não queira, como os pais fazem com as crianças. A vontade popular não deve ser à vontade. Autoridade só é de verdade se não tiver medo de ser impopular, como Mandela, quando saiu da prisão pregando a paz para uma nação em pé de guerra, contrariando negros e brancos, mas o tempo mostrou que ele estava certo e tornou-se o político mais popular do mundo.

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