Virou costume: sábado os netos dormem aqui na chácara. Pietro tem 2 anos e, se a gente pergunta se quer fazer cocô, diz que não; em seguida, faz, e Dalva levanta os olhos para o céu:
Lá vou eu lavar a bunda do Pietro!
Ele tenta repetir:
Lalá a buda preta.
Caetano tem 3 anos e se enche de orgulho quando a gente diz que ele não usa mais fralda, virou moço. "Num sô mais nenê", diz pegando a mamadeira em que toma água. Pietro volta limpo e os dois resolvem pular no sofá, achando nisso tanta graça que acabamos rindo também, daí eles se acabam de tanto pular, até que deitam extenuados. Adormecem no sofá mesmo, as bocas ainda sorrindo. Nós ficamos vendo um filme, depois levamos os dois para as camas, Dalva dorme com um, eu durmo com outro.
Caetano dormiu sem fazer xixi, então de madrugada toco seu ombro e digo "Caetano, vem fazer xixi com o vô". Ele joga as pernas para fora da cama e vai cambaleando para o banheiro. Desce as calças do pijama, segura o pintinho na borda da privada e urina de olhos fechados. Acaba de urinar, continua ali dormitando em pé, toco seu ombro: "Vamos voltar pra cama?"
Ele vai com as calças ainda nas canelas, tropeça, suspendo suas calças, dou-lhe a mão, vamos para a cama. Que inveja me dá ver que continua a dormir mal coloca a cabeça no travesseiro.
Amanhecendo, como dormiu ainda de noitinha, ele acorda e me pergunta o que estou fazendo.
Acordando. Escuta só: ainda tem galo cantando!
Por que galo canta, vô?
Pra chamar o sol.
Por quê?
Porque galo tem frio e não tem cobertor.
Por quê?
Porque se galo tivesse cobertor, eu teria penas.
Aí ele fica satisfeito. Digo que vou fazer panquecas, ele vai para a cozinha e já arrasta o banquinho para junto do fogão, fica olhando. Pergunto quem vai comer a primeira panqueca.
Eu!
E a segunda?
Eu!
Come uma de queijo, outra de banana com canela, aí me olha com a boca lambuzada e os olhos doces, e me abraça as pernas. Pietro aparece na porta, segurando o Fred (seu coelho de pelúcia que, quando for aposentado, guardaremos na cristaleira como uma medalha por inestimáveis serviços prestados). Pietro vem correndo também me abraçar as pernas. Dalva entra e pergunta "O que é isso, caça ao vô?"
Ela me beija a boca e Caetano pergunta se ela escovou os dentes (para convencer os dois a escovar, dissemos que a vó e o vô só se beijam na boca porque escovam bem os dentes). Pietro repete:
Tem di cová denti, cová denti.
Depois nós vestimos macacões e, neles, calças compridas e botinas, vamos lidar na chácara e Dalva antecipa:
Logo vamos ter dois porquinhos.
Os dois "ajudam" na jardinagem e na horta: cavocam, mexem na terra, investigam joaninhas, seguem formigas, depois correm atrás dos cachorros e, quando a Dalva começa a regar a horta, disputam a mangueira. Acabam tão enlameados quanto felizes, chupando poncãs sentados na grama com a vó e os cachorros em volta. De repente, ela grita:
Quem quer tomar banho?
Os dois correm para a casa, ela vai atrás, menina cinquentona, e eu, moleque sessentão, chupo uma poncã com os cachorros me lambendo as mãos. Se isso não for felicidade, o que será?
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