Zumbi tinha escravos. Os Ir­­mãos Wright realmente inventaram o avião antes (e melhor) do que Santos Dumont. Nossos ín­­dios, tão massacrados, também se massacravam em guerras tribais.

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Os iconoclastas vibram, e já fui um deles mas, hoje, creio que precisamos de heróis, inclusive com seus defeitos.

Pelé rejeitando a filha que era sua cara. Mas, para mim, o pai desnaturado também continua ser o atleta exemplar que, mesmo fa­­moso, morou na república do Santos até se casar.

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Fui apaixonado por John Kennedy e seus discursos: "Não pergunte o que a América pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pela América". Até sa­­ber que seus discursos eram escritos por Adlai Stevenson, aí foi-se o encanto por Kennedy. Depois, li o livro em que ele relata sua sobrevivência quando a corveta que comandava foi afundada na guerra. Virei seu fã de novo, entendendo que só um homem com aquela coragem poderia, quando presidente, encomendar e assumir discursos tão corajosos.

Mas amigos comunistas de então não entendiam como eu conseguia gostar de Kennedy e também de Guevara.

Hoje, gosto quase nada de Guevara, misto de visionário romântico e guerrilheiro frio, disposto a morrer e a matar por crenças so­­cialóides, estrategista cego e automitologista genial, transformando a própria morte em mito. Li seu Diário da Guerrilha, e notei como era presunçoso, achando que conseguiria repetir em outros países a mesma mágica guerrilheira de Cuba.

Chorei pela morte do Che, mas, para renascimento de Cuba, hoje espero a morte de Fidel, que também já vi como herói e hoje vejo como ditador bufão, canastrão, cabotino e cínico, para dizer o mínimo. Não consigo esquecer das declarações da atriz e fotógrafa Gina Lollobrigida, e da repórter Oriana Fallaci, cantadas descaradamente por ele, autor da famosa frase:

– Não é que as universitárias cubanas são prostitutas, é que as prostitutas cubanas são universitárias.

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Enquanto isso, custei a gostar de John Wayne, de quem desgostei quando dirigiu o filme Boinas Verdes, que usou para matar, no cinema, os guerrilheiros que os Estados Unidos não conseguiam matar no Vietnã. O Vietnã, comunista, continua miserável, mas os outros filmes com John Wayne continuam ótimos.

Rapazola fui também fã de Valery Brummel, o russo campeão de salto em altura em 1964, e que depois sofreria acidente de moto, passando então por cadeira de rodas, muletas, bengala, daí voltando a treinar e saltar. Se dispusesse dos recursos técnicos de hoje, seu recorde ainda estaria im­­batido. Mas, conforme fui deixando de ser comunista, fui me azedando com o fato de ele ter sido do Exército soviético. Até que, quando caiu o Muro de Berlim, essa cisma caiu junto e Brummel tornou-se de novo meu herói exemplar de força de vontade e determinação.

Van Gogh também é meu herói, a pintar trabalhadores co­­mendo batatas quando a moda era pintar paisagens e bailarinas. Era louco e bêbado, sim, mas eu o amo assim mesmo.

Hoje, a sabedoria que o tempo me deu permite que veja as facetas boas de meus ídolos, sem desconhecer mas entendendo as facetas más. Fui fã de Brecht, que cunhou a frase famosa:

– Infeliz o povo que precisa de heróis.

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Hoje creio que a gente precisa de heróis, como meu herói Celso Garcia Cid, que dizia:

– Quem trabalha só para ganhar a vida, nunca vai viver tão bem como quem gosta de trabalhar.

Se meus heróis têm defeitos, melhor, pois são humanos, não os quero deuses. Ou, como disse outro herói:

– Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra!

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