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Estou na horta, de repente baixa o ET me assustando, e se desculpa dizendo que também está assustado:

– O Brasil negocia acordo para o Irã produzir urânio com fins pacíficos, mas os Estados Unidos, a Rússia e a Inglaterra, que não querem isso, têm arsenais atômicos que podem destruir o planeta!

Pois é, digo arrancando ervas daninhas. Ele diz que gostaria de entender outra coisa:

– O presidente Lula era contra reeleição, antes de ser eleito, depois ficou a favor. Por quê?

Porque ele é político, digo, e o ET fica me olhando intrigado, até perguntar:

– O Supremo vai resolver se o projeto "ficha limpa" vai valer para os muitos deputados com ficha suja, ou se só valerá para quem se sujar daqui pra frente. Mas a lei não era justamente para barrar quem tem passado sujo?

Digo que era para ser assim, mas em tudo na política se dá um jeito. Ele se coça:

– Gostaria de entender o que é "dar um jeito"...

Digo que dar um jeito é, por exemplo, pedir nota de despesas a mais, para a empresa reembolsar, ficando com a diferença. Ou, sendo político, contratar assessores que aceitem receber só metade do salário, para embolsar a outra metade. Ou, sendo pobre, dizer que tem renda miserável para ganhar bolsa-família. Ou pedir atestado médico falso para faltar ao trabalho. Ou, sendo médico, cobrar menos pelas consultas sem recibo para sonegar imposto. Ou, sendo estudante, copiar e colar textos da internet como se fossem próprios. Ou, sendo professor, matar aulas sabendo que ninguém vai cobrar. Ou...

– Chega! – o ET bota as mãos nos ouvidos – Às vezes você fala umas coisas absurdas! Tudo isso que você falou não é possível!

Pergunto por que, ele agacha para me falar com olhar esperto:

– Porque está na bandeira: ordem e progresso, de modo que vocês sabem que, para haver progresso, tem de haver ordem, e tudo isso que você falou é desordem!

Explico que a bandeira é mais para ser usada nos esportes, como o Hino é cantado da boca para fora. Por exemplo: a Justiça, no Hino, tem uma "clava forte", e, na prática, é injusta pela própria lerdeza, até porque vive entupida de processos pelo Estado ou contra o Estado, que recorre sempre, mesmo quando sabe que está errado. Tem gente injustiçada que espera indenizações há décadas e...

– Eu sei, eu sei – o ET senta no chão, olhando desconsolado uma formiga – Mas por que o povo aceita essa desordem?

Digo que é porque ainda não chegamos ao estágio dos ETs, que podem se dar ao luxo de viajar pelas galáxias xeretando a vida de outras espécies. Ele levanta bravo:

– Nós não queremos xeretar, queremos entender!

Digo para tomar cuidado:

– Nós, sempre que queremos entender povos primitivos, acabamos com eles... Muitos índios, que sobreviveram aos massacres do passado, morreram de doenças levadas às aldeias pelos antropólogos...

Você é cruel, diz o ET fazendo aquela cara que faz antes de desaparecer, e desapareceu. Eu olhei a formiga no chão e falei feliz é você...

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