Fui sacar a aposentadoria da mãe, deu "cartão cancelado". Esperei duas semanas a greve dos bancários terminar, para entrar numa fila de caixas na Caixa e, depois de hora (apesar da lei mandar atendimento em até 15 minutos em dias normais) fiquei sabendo que o cartão foi clonado e o saldo roubado.
Daí tive de renovar as procurações da mãe para o INSS e a Caixa, antes pegando novo atestado médico, reconhecendo as firmas em cartório, (embora o Código Civil dispense isso, só orgãos oficiais ainda exigem...), registrando as procurações no INSS, para voltar à Caixa, ufa!
Só que, desta vez, pedi a senha horária de atendimento. A caixa disse que não podia fornecer, falei que é lei, ela repetiu que não podia, falei alto que é lei, ela tornou a negar, aí apelei para brado retumbante, conforme o Hino. Ela então pegou o telefone e chamou o gerente, que apareceu rapidinho, pedindo para eu me acalmar, falei que não podia:
Perco a cabeça lidando com marginal. Como gerente o senhor tem de conhecer a lei e, se fica à margem da lei, é marginal. Se quiser deixar de ser, bote a hora aqui na senha e assine.
Ele assinou, pedi seu nome, que escrevi na senha acima de sua assinatura, depois falei que também deveria me arranjar cadeira, conforme manda a lei. A caixa então recuperou a voz para dizer que aquela fila era só "de triagem", a fila dos caixas tinha cadeiras. Falei que não, isso é interpretação da lei, como fazia aquele ex-chefe do Procon de Londrina, que interpretava segunda-feira como dia de pico, assim concedendo aos bancos mais tempo de fila para castigar os clientes e contribuintes que sustentam os bancos e o Procon.
Depois que soltei o brado retumbante, mais um caixa começou a funcionar para a fila "da triagem", na qual esperei sentado no chão. Fui atendido depois de 23 minutos, oito minutos fora da lei, conforme anotação da caixa, que também exigi na senha.
Checadas as procurações pela caixa, o caso subiu para o piso superior. Antes, fiz discursinho para as pessoas nas filas sentada e em pé, dizendo que enquanto não exigirem o direito à senha horária, os bancos continuarão usando nosso tempo para ter mais lucro e contratar menos bancários (mas não se vê o sindicato lutando por senhas horárias, como faz por salários, com greves que são férias para os bancários e suplício para os clientes).
No piso superior, disseram que a procuração que redigi não servia, tinha de ser conforme o modelo da Caixa. Falei que ia levar a minha à promotoria, com a certeza de que estava correta. Aí tiraram cópia, passaram fax para o Departamento Jurídico, que reconheceu ser a minha mais inteligente e abrangente que a procuração burramente detalhada da burocracia bancária. Mas, claro, se eu não tivesse ameaçado levar à promotoria...
Finalmente, depois um rito processual de hora e tanto, ficou a Caixa de, em cinco dias, devolver o dinheiro que alguém roubou porque a Caixa, encarregada de cuidar dele, não cuidou direito, talvez porque tenha seguro que lhe garante prejuízo nenhum.
Enfim, a Caixa saiu bem, o ladrão também. Só quem perdeu foi o cliente, aquele para quem a Caixa diz "vem pra Caixa você também, vem!". Eu, hein?
Se pudesse me livrar de bancos, diria amém.
Vou é procurar o Juizado Especial, com a senha assinada comprovando abuso da lei, e vou pedir indenização por dano moral, para doar ao Instituto do Câncer. Para que, conforme o ditado, de todo mal resulte um bem.
Mas façamos justiça desde já, ressalvando que a Caixa não é a única a ignorar leis para castigar quem a sustenta. Quase todos os bancos fazem o mesmo, com a bênção do Procon, a indiferença das autoridades e a omissão do povo que, ironicamente, tem Tiradentes como patrono cívico.
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