O rato novato vai correndo até o velho rato.

CARREGANDO :)

– Ouviu, velho? Vão acabar com os ratos aqui!

O velho rato sabiamente sorri.

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– Calma, aqui sempre houve e sempre haverá ratos. Quem disse isso?

O rato novato sussurra:

Aqueles sujeitos que mexem na papelada.

– Ah, os repórteres, estão procurando outro tipo de ratos.

O rato novato fica de boca aberta, até perguntar:

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– Mas existe outro tipo de ratos?

O velho rato boceja antes de explicar:

– É como eles chamam gente que diz que trabalha aqui, mas nem vem aqui.

O novato fica pensando.

– Mas se essa gente rata nem vem aqui, por que eles procuram na papelada?

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– Gente faz tudo com papel. Trabalham pra ganhar aqueles papéis que chamam de dinheiro. E em papéis também anotam quem recebe dinheiro, trabalhando ou não trabalhando.

O novato fica pensando.

– Mas por que uns ganham o tal dinheiro sem trabalhar?

– Porque são peixinhos de algum tubarão.

O novato fica pensando, o veterano ri e explica:

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– Acontece que aqui é o que eles chamam de casa de leis. Eles precisam das tais leis pra saber o que devem ou não devem fazer. Tem até lei dizendo que todos eles são iguais. Outra lei diz que só deve receber dinheiro aqui quem trabalha aqui.

Mas...

– Mas eles fazem as leis e eles mesmos desfazem as leis. Os tubarões empregam seus peixinhos, que os jornais chamam de ratos e...

– Não é justo! – esbraveja o novato – Nós, ratos, trabalhamos como o quê! Meu pai passava as noites procurando comida, minha mãe amamentando meus irmãos! Vida de rato é sacrificada e arriscada!

– Mas gente é assim – o veterano boceja – Gostam de se comparar com os bichos. Não vê aqueles que discursam bonito e fazem feio? São crocodilos. Os que só discursam bonito são pavões. Os que vivem escapulindo dos problemas, são bagres. Quando ficam velhos, viram raposas. Os que fingem bravura são chamados leões da Metro, só rugem pra fazer fita.

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O novato fica de boca aberta tanto tempo que o veterano avisa:

– Boca aberta não clareia cabeça.

O rato novato resmunga que não é justo.

– Não é justo ganhar sem trabalhar?

– Não é justo chamarem esses vagabundos de ratos.

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Esquece, diz o veterano:

– Vamos ver se no meio da papelada remexida tem alguma coisa pra comer. Mas com cuidado, hem, que eles não toleram ratos, quer dizer, ratos como nós.

– Não é o que eu disse? Vida de rato é arriscada! Não é justo!

E, assim que os repórteres apagam a luz, os ratos vão mexer na papelada, o rato novato ainda resmungando que não é justo, não é justo...