Digo a Dalva que pode haver igual, mas não haverá no mundo melhor avó, e ela pergunta por quê.

CARREGANDO :)

– Porque você é avó, professora, companheira e criança.

Hoje, os avós são mais avós que no meu tempo de criança. Avô de hoje beija e abraça muito mais, faz muito mais carinho, conta histórias, leva para passear, brinca com os netos na piscina e no parquinho, leva para a escola e para a lanchonete, coisas que meus avós não faziam, até porque não existiam parquinhos, lanchonetes eram raras, não existiam nem shoppings (acredite se quiser, jovem!). E, sobretudo, avô de hoje é mais criança.

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Pietro, quando vê Vó Dalva, já começa a sorrir, sabendo que lá vem brincadeiras. E Caetano, quando dorme aqui na chácara, acorda chamando pelo vô, mas depois, o dia inteiro, chama pela vó, para ver isso, ver aquilo, pois ela se admira de tudo que ele mostra, e tudo comenta com entusiasmo.

– Vocês viram? O Caetano desenhou um carro voador!

Tento enxergar onde está o tal carro voador entre tantos rabiscos, mas ela enxerga, diz que está lindo e que vai guardar. Ele incha de orgulho. Pietro então faz também seus rabiscos mas, como muitos pintores abstracionistas, não sabe dizer o que desenhou, ela então decifra:

– É um navio voador!

Pietro olha vitorioso para Caetano, e eu pergunto porque não desenham um avião voador. Dalva cochicha:

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– Não seja lógico, seja criança!

Criançamente ela convida os dois para "trabalhar na chácara", e lá vão eles mexer terra com suas pazinhas, arrastar a cesta de vime com as ferramentas dela, chupar jabuticabas no pé. Na horta, ela mostra uma minhoca, eles agacham curiosos e logo pipocam as perguntas:

– Cadê a cabeça dela, vó?

– Por que ela fica dançando assim?

– Onde ela mora?

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Dalva explica o que sabe e, de resto, inventa. Vou fazer o almoço e, quando sobem sujos como três porquinhos, tomam banho no chuveirão do terraço, a avó e os dois meninos, pelados como jamais aconteceria no tempo de minhas avós. Depois, almoçando, ela diz para comerem bastante tomate, porque está lindo de tão vermelho.

– Por que tomate é vermelho, vó?

Ela inventa uma historinha, aí eles comem tomate que só vendo.

À noite, antes de dormir, eles lembram de ver a lua, que noutras semanas ela já mostrou a eles cheia, minguante e crescente. Mas é lua nova, ela conta abrindo os braços:

– A lua sumiu.

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No dia seguinte, Caetano faz cocô certinho na privada, mas Pietro ainda usa fraldas. Dalva pergunta se ele não está com vontade, ele diz que sim, ela corre com ele para a privada, feliz, "o Pietro está aprendendo!". Mas, sentadinho lá, ele nada faz, ela pergunta cadê a tal vontade de fazer cocô, ele abre os braços:

– Sumiu.

E Caetano completa:

– Que nem a lua, vó.

Um dia, ela contou que a galinha do vizinho canta tanto para anunciar que botou ovo. Agora, vamos ao café da manhã e eles pedem ovos mas Dona Roncadora, a geladeira, está sem ovos. Então a galinha canta no vizinho e Caetano lembra:

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– Pede ovo pra galinha, vó!

E Pietro pega um garfo como se o ovo já estivesse no prato. Assim Vó Dalva vai ensinando a nossos netos Língua, Astronomia e Agronomia.