Não lembro bem como entrei lá, sei que não consigo sair. Não tanto pelas informações (que são valiosas), e sim pelas postagens mais singelas que a internet agrupa. A primeira coisa que me abobalhou no grupo Hortelões Urbanos, no Facebook, foi uma centena de gente emocionada com um cajueiro. Depois veio a foto de uma batata-doce brotando de um vaso suspenso, feito uma samambaia. E então uma discussão que me pareceu surpreendente sobre uma foto: é tomilho ou orégano? Encontrei minha turma.
Mesmo um pouco receosa com os rumos que a discussão poderia tomar (um Fla-Flu das ervas pode ser raro, mas não é impossível), acompanho a discussão até chegarem a um veredicto. Em uma hora, foram 13 votos para tomilho, quatro para orégano e algumas respostas enigmáticas – “Parece com o que comprei como tomilho e que tem cheiro e sabor de orégano”, escreveu uma integrante; e minha segurança murchou feito espinafre na frigideira. Dei o quarto voto da enquete para o tomilho, num impulso pouco característico e muito participativo da minha parte. A moça ficou satisfeita com as respostas, mas a discussão chegou a 48 comentários – votos para o tomilho vicejando, palpites para orégano meio estiolados. Não posso perder as poucas certezas que tenho: fiquei com a maioria.
Tem que sentir o cheiro, disse alguém. Se a folha é miúda e tem pontinhas, é tomilho, vaticinou outro. E teve quem dissesse que era orégano, porque tomilho é menor (ainda). E eu na expectativa que alguém desse a palavra definitiva, citando nome em latim e o escambau. Mas parou por aí. A atividade dos hortelões mudou de canteiro e se concentrou em fotos de colheitas, controle de pragas e receitas com berinjela. É, encontrei minha turma.
Mal se passaram 24 horas e meu namorado grita lá da sala: “Ei! Será que isso aqui é manjericão mesmo? Tá com umas folhas gigantes, nunca vi igual”. Parei de escrever este texto no ato e fui averiguar. Os antigos têm razão: a língua é o chicote da bunda. Por alguns segundos não soube dizer o que estava semeando nos pequenos vasos. Recorri à internet e encontrei tudo o que não queria encontrar: “Ocimum sp. – Manjericão ou alfavaca”. Como assim!? Sempre pensei que eram espécies diferentes.
A única certeza que tenho é a de que comprei um pacote de sementes há uns bons dois anos e até então ele havia se comportado como outro manjericão qualquer: folhas de uns cinco centímetros de comprimento, flores branquinhas em espiga, aquele aroma delicioso pela casa na hora da poda. As folhas que surgiram no topo do galho estão com o dobro de tamanho e a gravidade as fazem parecer orelhas de cachorro. São 10,5 centímetros de comprimento – dá para fazer um origami. Fui reler o pacote, que trazia em letras garrafais a palavra MANJERICÃO, tão e somente. E, logo ao lado, em uma fonte menor: “ou alfavaca cheirosa”. Putz. Me pegaram direitinho.
Não satisfeita, abri o “Ervas Culinárias”, um livro publicado em 2011 pela Publifolha, e vi que o Ocimum basilicum das folhas enormes é chamado de manjericão-doce ou genovês. Aposto um pesto que a alfavaca é uma convenção social.
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