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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

A ciência há de explicar por que primatas do nosso gênero adoram meter-se em jaulas chamadas de apartamentos. Nelas, mal dá para virar uma cambalhota, porque nós, humanos, vivemos para encher espaços vazios de mobília enquanto sonhamos com um gramado para rolar e catar piolhos enquanto pegamos sol. E comer à vontade, esparramados no sofá, o melhor móvel já inventado depois da cama. A evolução haveria de servir para alguma coisa.

Bem treinados que somos desde a infância, a maior parte de nós chega à vida adulta sabendo se comportar à mesa e desenhar letras com habilidade notável. Lá em casa, semanalmente, começamos a lista de compras organizando e repetindo três letras: “banana”.

Devoramos dúzias, compramos toda quarta e sábado e mesmo assim, nunca há o suficiente. A regra é trazer para casa um quilo ou mais da variedade que estiver mais bonita na feira: prata, maçã, nanica. De vez em quando vamos de caturra e, recentemente, comprei bananas-da-terra pela primeira vez e fiz uma moqueca. Gamei. Deveriam ensinar receitas com banana nas escolas, porque a quantidade de pratos possíveis salvariam um náufrago moderno, isolado em sua cozinha com apenas um cacho de bananas e uma caixa de fósforos.

Para o nenê, dão um pedaço de banana quando os dentinhos despontam. Mais tarde, ele talvez leve a fruta na lancheira e quem sabe passe a comer banana cada vez que sai de bicicleta, para evitar as cãibras. E a banana, coitada, periga ficar com essa sina de ser apenas um lanche cômodo espertamente embalado pela natureza. Chega a ser esquecida cabisbaixa na fruteira enquanto nos ocupamos com as panelas. O tomate, que também é fruta, ri sem dó. Cá com meus botões, lembrei de uma penca de possibilidades.

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As receitas

Flávia dá as receitas de moqueca vegetariana e de bolo de banana com cascas caramelizadas.

As caturras molengas que catingam um pouquinho e chamam as moscas da fruta para a festa levam apenas cinco minutos na água fervendo. Rasga-se a casca que empreteou e com um garfo reduz-se a polpa a papa. Canela e cravo em pó, aveia tostada e algumas castanhas, eis um café da manhã. Outra ideia digna de ser importada para começar o dia são os patacones caribenhos: trozos de plátano fritos, aplainados e novamente fritos.

No Brasil, podemos matar a vontade com genéricos: umas rodelas de banana-da-terra douradinhas no azeite e servidas com sal. Quem sabe uma pitada de alho em pó, para provocar?

Duas fatias de pão, uma com tahine, outra com melado. No meio, queijo e bananas, cruas ou assadas. Polvilhadas com canela ou sem. Fecha-se o sanduíche e fez-se o X-Mico.

Com leite no liquidificador: vitamina. Como par romântico do açaí. Na cobertura da cuca alemã, entre a massa fofa e a farofa. Se estiver verde, vira biomassa, pronta para se transformar em qualquer coisa logo depois – patê, trufa, engrossar sopa ou suco. De tão insossa, é promissora. Se tem birra com o funcional, pegue-a ainda verde, fatie e frite por imersão. Melhor que batata chips.

Nem a casca escapa. Os vegetarianos meteram-na em um empanado que chamam de bife. Eu me arrisquei caramelizando as cascas de banana orgânica para a cobertura de um bolo que não desperdiçou um grama sequer do ingrediente. A evolução haveria de servir para alguma coisa.

No futuro, vislumbro-me, simiesca, a plantar bananeiras num pomar.

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