O mais assustador de se criar um filho é o quanto não temos noção da influência assustadora que temos sobre eles. De repente eles começam a dar uns gritos estridentes e ops! estão só nos imitando. Minha voz é assim tão fina? Parecido com ouvir uma gravação de si mesmo.
Surge a dúvida: será que ela projeta o queixo desse jeito porque eu... eu faço isso?? A pergunta já vem diante do espelho, analisando as feições.
A sorte é que normalmente eles são xerox do pai, então a mãe tem folga por alguns anos. Depois, como se sabe, acaba tudo sendo culpa dela, como comprovam os consultórios de psicologia e um episódio da saudosa “TV Pirata”. Num bloco do programa que foi ao ar entre 1988 e 1992, o “sindicato das mães” invadia uma sala de terapia e cobrava explicações do pobre profissional. Que história era essa de responsabilizá-las por todos os podres da alma adulta?
Dizem que, junto com o bebê, nasce a culpa da mãe, mas a dica é fazer como uma conhecida nossa: “Gente, eu devo ser uma psicopata. Não sinto nada disso!”
A maioria, porém, sofre desse mal. A orelhinha meio aberta? Claro que foi a mãe que não soube alternar o lado do soninho do bebê (torçamos para que essa pobre progenitora encontre alguém com conhecimentos de genética suficientes para dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra).
A essa preocupação angustiante relacionada a fazer tudo certo em prol da alimentação, limpeza e integridade física da criança se somam outras ainda mais neuróticas. Se está andando torto igual eu andava, se estou comendo direito para dar o exemplo, se escovo os dentes da direita para a esquerda quando o dentista salientou que é da esquerda para a direita... menos, né.
De minha parte, sinto que minhas preocupações de nada adiantarão à Catarina. Fico louca tentando resolver o problema gravíssimo das distorções gramaticais. Por exemplo, percebeu como a palavra “dentre” engoliu o “entre”? Ninguém mais usa o pobre “entre”! Estou quase precisando de terapia por causa disso. Aliás, pode ser que eu cometa muitas dessas deturpações por aqui, sem perceber. Mas será que esse problema é tão grande assim? Ele “se sobressai” entre tantos outros mais prementes? (O verbo sobressair não é reflexivo, gente.)
A ironia é outro problema. Podemos ser irônicos com uma criança? Quando será que ela vai entender as ambiguidades? Sempre achei que é “melhor aprender em casa”. Mas e se ela ficar ainda mais chata do que eu?
Deixe sua opinião