| Foto: Ingrid Skåre./Gazeta do Povo

Eu e meu marido não podemos sair para jantar. Não pelo dinheiro, porque uma vez por década daria. Nem pelo nascimento da primogênita, porque existem avós disponíveis. Trata-se antes de uma aversão ao romantismo compulsório. Explico: a conversa flui animada durante um jantar na cozinha com coxinhas e suco de maracujá, ou qualquer almoço regado a sobras de pizza. Você não vai acreditar, mas o tema mais frequente é a inserção do teatro contemporâneo na sociedade ocidental.

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Tire os pombinhos de seu centro de estabilidade, transporte a cena para um restaurante à luz de velas, e fica difícil ser a gente mesmo com a tal obrigação de parecer um casal feliz. É como a impossibilidade de se medir a velocidade e posição do elétron ao mesmo tempo: um sempre escapa. Flagrados pelas câmeras do mundo, nós dois ficamos constrangidos e o papo não flui. Ou se é ou se parece. Parece loucura, mas há método.

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Fico pensando como a geração dos nossos filhos irá lidar com a questão da ascendência, tão valorizada entre nós curitibanos. Nas rodas dos meus amigos, sempre foi fácil para cada um se definir: “Sou meio italiano, meio alemão” ou então “meia ucraniana, meia portuguesa”. Mas nossos rebentos já têm um DNA um pouco mais complexo. Minha filha, por exemplo, tem um nonno, uma baba, um opa e uma mormor. Deve ser por isso que dizem: está cada vez mais complicado colocar um filho no mundo.

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A menina lê no sentido bíblico. Assim como o profeta Ezequiel, devora as palavras que apresentamos a ela. Os cantos dos livros dados com carinho pela madrinha, roídos. Os preferidos são os bem pesados, que provavelmente conferem um senso de recompensa maior. Assim fica difícil estimular a leitura. Pelo menos antes de as crianças completarem um ano.

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Alguns pais reclamam da preferência dos bebês pelas mães. Parece meio óbvio. Afinal, elas têm aquele cheiro de leite tão atraente ao olfato e estômago deles. Com o tempo, porém, a interação melhora e o pai vira o xodó, para quem eles estendem os bracinhos e abrem o sorriso desdentado.

Na hora de amamentar, volta para acoplar na mamãe. Em público a coisa complica, tem gente que não aceita como algo natural. Ainda bem que não estamos mais no tempo de Dostoiévski. Transformado em personagem por Leonid Tsypkin em Verão em Baden-Baden, o escritor russo diz que as mulheres do local dão o seio em público, “como as ciganas”.

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E como bloquear a trajetória de um bebê? Brinquedos, eles preferem o mais barulhentos, seja às 7 da manhã ou às 7 da noite. Depois que engatinham, saem experimentando as diferentes texturas e temperaturas do piso ao redor da casa – e não adianta apagar a luz da cozinha: pouco tempo atrás eles estavam no breu do útero, bem felizes.