Quero deixar bem claro que coloco meu casamento em risco para escrever essas linhas. Fui alertada para não tornar públicas minhas obsessões. Mas corro o risco por ser mais forte do que eu: quero falar da delícia que é limpar o bebê.
Sim, eles ficam sujos, bem sujos, e é lindo deixá-los novinhos, brilhando.
A hora do banho é um divisor de águas na rotina da família brasileira (não sei como isso se dá nas casas europeias). É quando você mergulha aquele ser com cheirinho de usado (o que também tem seu encanto) numa água morninha, calma, e espera para ver o que acontece.
Se estiver ainda com saldo positivo de energia, ele começa a hidroginástica, caso em que é necessário fechar a porta do box. Vai splash pra todo lado, êta motorzinho de lancha da mamãe cuticuti etc. Mas também é um momento tenso, que requer muita atenção do responsável da vez. A peraltice varia conforme o temperamento da criança, podendo ir de tentar se pendurar no porta-shampoo a simplesmente lamber as bolhas de sabão.
Agora, se o farol já estiver baixo, você notará que o nudista fica parado, pensando se vale a pena brincar com o patinho. É a oportunidade para colocar na cama mais cedo – aliás, o banho sempre funciona como calmante, sendo altamente recomendado não pular essa etapa cotidiana.
Bom, essa foi a parte politicamente correta. Se você chegou até aqui, talvez esteja preparado para cenas mais fortes. É que existem outras limpezazinhas necessárias ao longo do dia... não falo das trocas de fralda, que levam toda a culpa pelo trabalho que os pais têm depois que o filho nasce, mas acabam entrando no automático. Com uma ou outra explosão mais temerária, que não valem aprofundamento.
O bom mesmo é... vou falar bem rápido: limpar o nariz. Pronto, falei. É uma experiência transformadora. Existem vários mecanismos contemporâneos adequados à tarefa, muitos equipamentos importados que te ajudam na missão, cada vez mais próxima de ser atingida, mas ainda utópica, de deixar os canais de respiração da criança totalmente desobstruídos.
Meu método consiste num tubo de cerca de um metro acoplado a dois bicos de silicone, sendo que um vai no local de acesso à meleca e o outro, bem, na sua boca. E comece a sugar! A impressão que dá é que a alma do seu filho está sendo purificada. Por isso dá uma peninha quando acaba – ainda mais que, conforme o manual, só pode fazer duas vezes por dia.
Findo esse ponto alto do dia, você se sente reanimado para continuar a difícil empreitada da criação. Digo, dessa parte material da coisa. É um ciclo que parece interminável, vai e vem, limpa e suja de novo. Parafraseando Lady Macbeth: “Nem toda a água do oceano pode lavar de uma vez essas mãozinhas”.
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