As redes sociais se tornaram um ringue competitivo na última sexta-feira, 12 de junho. Na comemoração do dia dos namorados brasileiro, véspera dos festejos para Santo Antônio – o casamenteiro – o Facebook ficou repleto de declarações e de reclamações das declarações. Quanto apaixonado e quanto rabugento ao mesmo tempo.
Teve gente lembrando que o dia 12 foi o gol do fulano de tal em 1900 e bolinha, e que era um dia importantíssimo porque estreou a terceira temporada da série “Orange is the New Black”. Tudo para praguejar contra os apaixonados que postavam álbuns e declarações nas redes sociais.
Na minha timeline, aliás, teve mais marmanjo do que moça fazendo montagem com corações. Achei ótimo: chega dessa história de que homem não pode demonstrar sentimento.
Fora que foi uma lindeza ver as banquinhas de flores com fila de cavalheiros, mesmo numa sexta de chuva torrencial em Curitiba, aguardando para levar um mimo para sua companheira (ou companheiro – todas as formas de amor merecem ser celebradas).
Mas existem bons argumentos para não se gostar da data: “É muito comercial”, dizem uns. Outros, declaram que o dia marcado tira a espontaneidade de se oferecer um presente ou uma gentileza ao amado/amada. Outros apontam o dedo para casais que “fazem ‘DR’ (a famosa ‘discussão de relacionamento’) o ano todo”, mas, no dia 12, ah, são só amor nas redes sociais! “Hipocrisia!”, esbravejam.
São explicações que fazem muito sentido. Mas o dia dos namorados pode fazer a gente refletir sobre algo bem maior, e fascinante: como duas pessoas se encontram , e o que as move a resolverem dividir as suas vidas? Ou, pelo menos, tentar?
Os céticos vão me dizer que o amor romântico é uma invenção, e que ele ajudou a nos organizar em sociedade. Nada mais. Vão me citar estatísticas de que os locais onde as pessoas mais se conhecem são no trabalho e na faculdade, e que não tem nada de surpreendente nisso.
Mas eu respondo: como aquelas duas pessoas foram escolher a mesma profissão, e parar no mesmo lugar? Como dois indivíduos que, às vezes, nasceram e cresceram do outro lado do país, se apaixonam em uma cidade que elas sequer imaginavam que um dia iriam morar? É uma mudança de curso, algo às vezes repentino, que faz a gente cruzar o caminho daquela pessoa com quem a gente quer juntar as escovas de dente.
Dia desses, Antônio me falou que morava no Mato Grosso. Sua mulher é de Manaus. Os dois se encontraram na fria Curitiba, onde ela estava de passagem. “Nunca mais a deixei voltar.” Uma vez por ano, pegam um avião e vão enfrentar o úmido calor do Amazonas para visitar a família.
Valdiléia (que comanda a redação – é ela a nossa fornecedora oficial de café), há 11 anos com o marido Sebastião, me confessou dia desses: “Sabe, sinto a mesma coisa por ele que no começo, não mudou nadinha”.
Qual é essa mágica que existe em dormir e acordar com alguém, por anos a fio, e não enjoar? O intelectual André Gorz, no livro “Carta a D. – História de Um Amor”, escreveu para a sua Dorine que olhava para ela, então com 82 anos e uns seis centímetros a menos de altura, que ela estava tão bela e graciosa como no dia que se conheceram, 60 anos antes.
Isso não pode ser tão lógico, ou denotar apenas“comodismo” (apesar de o mundo estar repleto de relacionamentos infelizes que só não terminam pelo medo de mudar).
O amor tem, sim, uma magia irracional e inexplicável, sendo ele demonstrado ou não nas redes sociais.
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