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Faça o seguinte: deixe a cargo do Nat King Cole. O caro leitor é tímido, inseguro? Talvez esteja tenso demais e não saiba o que fazer. Não tente fazer nada.

Deixe com o Nat.

A sua voz, meu amigo, pode falhar ou desafinar, ser esquisita, tropeçar nas frases musicais, se atrapalhar com aquilo que você quer dizer ou com aquilo que você pensa ou deseja. No momento mais decisivo, é possível que você esqueça a letra. Ou dê um espirro. Ou tussa.

Nat King Cole jamais se atrapalha ou falha. Note como ele é inteiro, elegante, sereno. Dono de si. Seguro como aquela mão que, no Paraíso, avançou para alcançar o fruto proibido.

A voz é única, absoluta, cheia de nuances e cores.

Um veludo, dizem os entusiasmados. Aliás, é o que ela lhe diz nesse momento:

– Parece um veludo a voz desse homem.

E que homem! – ou homens, você e Nat King Cole!

E o piano? Um dos melhores pianistas de jazz de todos os tempos. Quem poderá superá-lo? Deixe com ele, portanto.

There will never be another you

Você, por mais apaixonado, jamais diria esse verso melhor do que ele.

Tentou? É impossível. Na voz dele essas palavras são capazes de conquistar qualquer mulher que você esteja cortejando. Ah, sim, ele é de um tempo em que se cortejava. Com espontânea elegância. Elegância fatal. Não há um só movimento, dos cabelos engomados aos sapatos reluzentes, que não esteja em sintonia com uma sedução irresistível.

Deixe com ele, portanto.

Coloque outro CD ou DVD. Ou melhor, mais um LP. Deixe rodar. Faça de conta que você está com o pensamento perdido em paragens distantes. Acenda um cigarro, pois ele é de um tempo em que os cigarros ainda não haviam sido demonizados. Cigarros fumados ao som de Nat King Cole são essenciais. Criam fantasias no ar, movem-se como se fossem pura dança, enchem as cabeças de sonhos – e a mulher que você deseja a partir desse momento o contempla com ares de quem afinal encontrou um grande amor.

Falta apenas um passo. Ou alguns versos. Um improviso ao piano. A voz desenhando no ar:

When I am alone with only dreams of you.

Pronto. Deixe com o Nat King Cole. Ele sabe das coisas.

Você colocou o vinho mais refinado – no qual investiu uma pequena fortuna se pensarmos no seu salário – na mesa próxima, os cálices em disposição estratégica, o abridor repousando sobre um guardanapo imaculado. Esqueça tudo isso. É só paisagem. Ajuda, mas é paisagem.

Diga alguma coisa ao acaso. Faça comentários sobre o novo corte de cabelo dela, o vestido absolutamente – não exagere com advérbios, cuidado – elegante. Diga: quando você chegou, foi a primeira coisa que percebi. Mas não exagere. Elogios demasiados elas pensam que é pilantragem. E é.

É claro que para se chegar a esse ponto e tudo funcionar é necessário que você faça uso de seus próprios recursos, de sua própria voz e gestos. Faça o convite com delicadeza. Não acredite naqueles que dizem que os tempos românticos acabaram. Nem mesmo os românticos acabaram. Apenas não estão na mídia, não combinam com o estilo brucutu de rodeio que anda solto por aí.

Portanto, aguarde. E vá em frente.

Afinal, Nat King Cole não pode fazer tudo sozinho.

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