Ele se chama Carlos e ela se chama Helena.
Conheceram-se há muitos anos, quando eram jovens, belos e, como todos os jovens, eternos. Ocorre que não se viam há...
– Muito tempo, sorriu ele.
– É bom nem pensar nisso, disse ela.
Riram os dois, fazendo contas que não revelaram um ao outro. Estavam na entrada do colégio a espera da saída dos alunos. Ele fora buscar o filho e, ela, a neta.
– É verdade, disse ela, já tenho neta.
– Incrível.
– E seu filho?
Como se precisasse se desculpar, ele explicou que casara muito tarde, talvez tarde demais, era um pai quase velhinho.
– Velhinho? Imagine! Você está muito bem.
– E você... perdão, continua linda.
Soou o primeiro sinal de saída de alunos.
– O primeiro sinal, disse Carlos, sem saber o que dizer.
Helena não pareceu ouvir, os olhos perdidos no final da rua, um sorriso nos lábios. Ele observou que ela parecia mais jovem e bonita. Perguntou:
– Está pensando no quê?
– Ah, desculpe. Eu...
– Estava muito longe daqui, comentou Carlos.
– É verdade. Lembrando de um baile.
– Foi longe, então. Já não existem bailes há muito tempo. Não aqueles.
– Você lembra do tango?
– Que tango?
– O tango que dançamos. Todos pararam para ver. Fomos aplaudidos. Não lembra?
Carlos não conseguiu evitar a gargalhada:
– Eu, tango? Sou o pior dançarino do mundo, quanto mais tango! Você foi com outro namorado nesse baile.
Helena balançou a cabeça:
– Nada disso. Lembro como se fosse hoje. A orquestra, a nossa turma, meu vestido novo, vermelho. E você metido num terno azul escuro.
– Não era eu. Eu não tinha terno.
– Não brinque. Veio até a mesa, me cumprimentou e me convidou para dançar. Naquele tempo era assim, lembra?
Foi quando Carlos lembrou. O terno do irmão. A mesa com refrigerantes e algumas flores. Quando se dirigiram para o salão ele disse que ela estava tão linda quanto aquelas flores, frase que lhe pareceu ridícula e da qual se arrependeu, envergonhado. Ela sorriu.
– Mas eu não sei dançar tango, Helena.
– Foi o que me disse naquele dia.
É verdade. Dissera: eu não sei dançar tango. Aliás, não sei dançar nada, sou um desastre, completou com convicção.
– Eu também disse que não sabia dançar tango.
Os dois riram.
– Foi o tango mais maravilhoso da minha vida – disse Helena. Jamais esqueci.
O segundo sinal soou, os dois aproximaram-se do portão. A primeira a chegar foi a neta de Helena, correndo. Mais atrás, arrastando uma mochila, o filho de Carlos.
Despediram-se. Helena atravessou a rua com a neta. Carlos acompanhou o filho pela calçada. Quando chegaram ao automóvel, o filho perguntou:
– Quem era aquela mulher, pai?
– Uma dançarina.
– Dançarina?
– De tango. A melhor que conheci.
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