| Foto: Miguel Nicolau/Gazeta do Povo

Confesso que em conversas informais já sondei meu herói Barcímio Sicupira sobre a ideia de escrever, a quatro mãos, o livro das memórias do maior artilheiro do meu time. Com a sagacidade do tamanho de seu bigode, o “craque da 8” sempre respondeu que “não, pois o cara que publica as memórias morre na semana seguinte”.

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LIVRO

Efemérides Antoninenses

Lançamento dia 7 de novembro às 15h30. Arquivo Público de Antonina. Entrada franca.

Pensei nisso quando soube da morte de outro ídolo, o showman Luiz Calos Miele, que recém-publicara um livro (obrigatório) sobre suas muitas vidas. Como uma história puxa outra, lembro que são comuns, aliás, os casos de livros póstumos que são deixados prontos ou são encontrados em gavetas e velhos arquivos.

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Mark Twain, Kafka, Bolaño, Salinger, Fante e outros deixaram material para arqueólogos literários e sempre há esperança que existam ainda muitos dobrões de ouro enterrados por aí; uma ideia excitante.

Mas saibam os senhores que isto não acontece apenas com os grandes autores, mas também dentro de nossas casas. Como na notável história que me foi narrada por dois amigos, os irmãos Alceu e José Maurício, numa tarde dessas em um dos cafés da cidade.

Emocionados, eles me contaram que, após a morte do pai, o farmacêutico Alceu Pinto de Almeida, em 1999, ambos se ocuparam de organizar seus pertences e se depararam com uma pasta onde o pai afixara uma etiqueta escrita: “Efemérides Antoninenses”.

Dentro dela, descobriram centenas de folhas manuscritas em épocas diferentes com a caligrafia do boticário capelista.

Nelas, o pai anotava datas e acontecimentos históricos de sua amada cidade natal.

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O conjunto forma uma espécie de enciclopédia de fatos e pessoas de Antonina que começa em 1662 com o registro da “venda da Sesmaria de Guarapirocaba, de Pedro Uzeda para Manoel da Costa Velozzo”e termina com a eleição da presidência da câmera municipal da cidade em 1998.

Os filhos, em respeito a memória do pai e ao conteúdo histórico do material, editaram e publicaram o livro que será lançado durante a festa de aniversário de Antonina no próximo dia 7 de novembro (uma bela efeméride!).

Nos verbetes, há histórias deliciosas como a da fundação da Associação Atlética 29 de Maio. O clube foi criado na empolgação da primeira grande conquista do futebol brasileiro, o Sul-americano de 1918.

29 de maio foi a data da vitória final, o 1 x 0 contra o Uruguai com gol do tigre Fridenreich (meu avó sempre lembrava deste jogo fatal), que virou choro de Pixinguinha e Benedito Lacerda e segundo a nota do velho Alceu “ por via telegráfica atingiu todo o território brasileiro, e os antoninenses, em regozijo, fundaram a associação”.

A história deste manuscrito esquecido me pegou pelo fígado, pois em crônica recente confessei a minha relação de amor com um antigo caderno de receitas de minha mãe cuja posse me coube depois que ela faleceu.

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No momento, me pego pensando em seguir o exemplo e publicá-lo também: “As receitas da dona Nica”.

Não sem antes me perguntar quantas preciosidades podem estar escondidas por aí em gavetas e baús entupidos de saudades.