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Lado a Lado
Rede Globo. Segunda-feira a sábado, 18 horas.
Em sua origem, lá nos anos 1970, as novelas do horário das 18 horas da Rede Globo eram produções de época. E baseadas em obras literárias. A estreia, Helena, de 1975, foi uma adaptação do romance homônimo de Machado de Assis, assinada por Gilberto Braga, com Lúcia Alves e Osmar Prado nos papéis principais. O horário volta a apostar em um folhetim com fundo histórico: Lado a Lado, de João Ximenes Braga e Claudia Lage.
Embora não seja baseada em um livro, a novela, há duas semanas no ar, tem bastante a ver com o Rio de Janeiro de Machado de Assis, do início do século 20 e dos primeiros anos da República, proclamada em 1889 pelo marechal alagoano Deodoro da Fonseca. Como consequência, o imperador Dom Pedro II e sua família deixaram o país, para se exilarem na Europa.
Com produção requintada, fotografada pelo mestre da luz do cinema brasileiro, Walter Carvalho, Lado a Lado é um prazer para os olhos. Mas também oferece ao espectador um salto surpreendente de qualidade em relação a sua antecessora Amor Eterno Amor, que apostou no filão espírita, misturado a romance, muito em voga tanto na televisão quanto no cinema brasileiro.
A proposta de Lado a Lado é original e muito instigante. Pretende mostrar como a sociedade brasileira, mais especificamente a do Rio de Janeiro, então capital federal, se reconfigurava nos anos que se seguiram ao fim da escravatura e ao início da República no país, mais especificamente na primeira década do século passado.
De um lado, vê-se a aristocracia decadente, representada pelo casal Alberto (Werner Schünemann) e Constância Assunção (Patrícia Pilar), barões que perderam o título de nobreza e a fortuna com o fim do Império e veem no casamento da filha, Laura (Marjorie Estiano), com o jovem advogado Edgar (Thiago Fragoso), filho do senador Bonifácio Vieira (Cássio Gabus Mendes), a possibilidade de reencontrar seus dias de bonança e riqueza.
Do outro lado, o dos pobres e negros, estigmatizados e condenados à miséria e ao preconceito, tem como protagonistas a empregada doméstica Isabel Nascimento (Camila Pitanga), uma jovem obstinada e lutadora que, nos primeiros capítulos, se vê separada, no dia de seu casamento, de seu futuro marido, Zé Maria dos Santos (Lázaro Ramos), preso injustamente ao tentar impedir a destruição dos cortiços no centro do Rio de Janeiro, onde a população miserável e de origem africana vivia.
Ao mesmo tempo em que a trama fala sobre temas culturais mais leves, como o surgimento do samba e a chegada do futebol ao Brasil, Lado a Lado aborda um assunto pouco mostrado pela televisão e pelo cinema: a chamada higienização do Rio de Janeiro, processo que fez uma espécie de limpeza étnica no centro da metrópole carioca, banindo ex-escravos e seus descendentes, o que deu origem às primeiras favelas, nas encostas de morros e bairros mais afastados.
Outra questão fundamental no folhetim é o nascimento da mulher moderna na sociedade brasileira, representada tanto por Laura, uma jovem idealista, que deseja trabalhar como professora e fugir do destino de ser dona de casa e mãe de família, e Isabel, que tem de se confrontar com toda a espécie de percalços, como pobreza, racismo e sexismo, para tentar ser feliz. As duas, uma branca e a outra negra, ficarão amigas. Daí o título Lado a Lado.
Com ótimo elenco, com destaque para a trinca feminina (Camila Pitanga, Marjorie Estiano e Patrícia Pilar) e para o sempre ótimo Lázaro Ramos, Lado a Lado talvez peque um pouco ao simplificar as tensões político-sociais da época, fazendo dos monarquistas elitistas malvados, movidos por preconceitos e ressentimentos,w e dos republicanos idealistas corajosos e imbuídos de sentimentos nobres. As coisas não eram tão simples assim. Mas o protagonismo dado aos negros é bem-vindo, uma vez que muito de sua história e contribuição ao país, da cultura às lutas sociais, ainda está por ser contado.
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