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SaramandaiaDe terça a sexta-feira, às 23 horas, na TV Globo
Quando foi ao ar da primeira vez, em 1976, Saramandaia revolucionou a teledramaturgia brasileira ao fazer críticas veladas à ditadura militar com uma linguagem inovadora, inspirada no realismo fantástico latino-americano, de autores como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Jorge Luis Borges. Trinta e sete anos depois, o remake da icônica novela de Dias Gomes, assinado por Ricardo Linhares, consegue a proeza de se manter atual e relevante em um contexto histórico totalmente diferente.
Se não precisa "driblar a censura" com os símbolos e metáforas da história, como fez Dias Gomes, Ricardo Linhares se apropria deles como uma alegoria da dificuldade do ser humano em lidar com as diferenças representadas pelas "bizarrices" dos personagens, como as asas de João Gibão (Sérgio Guizé), o lobisomem em que se transforma o professor Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes) e as formigas que saem do nariz de Zico Rosado (José Mayer), entre outras.
Tampouco a crítica política perdeu a razão de ser. Apenas mudou de alvo: da ditadura militar para a corrupção e a incompetência administrativa, sempre tendo como pano de fundo a defesa da liberdade de expressão. Nesse aspecto, a nova versão de Saramandaia contou ainda com uma conspiração favorável do universo: estreou no exato momento em que o país é sacudido por manifestações maciças contra a perda do poder aquisitivo e os desmandos dos políticos apesar de as gravações terem começado em abril. No primeiro capítulo da nova versão, na última segunda-feira, a passeata liderada pela "cara-pintada" Zélia Vilar (Leandra Leal) pela mudança do nome de Bole-Bole para Saramandaia ecoou os protestos que se espalharam pelo Brasil. E Ricardo Linhares já adiantou que vai fazer referências às mobilizações no texto da trama.
No que diz respeito à novela em si, os primeiros capítulos foram animadores. Autor, direção e elenco parecem não ter se intimidado diante da responsabilidade de recriar um clássico dessa envergadura. De maneira geral, defendem seus postos com competência e dignidade. O texto de Ricardo Linhares é leve e bem-humorado, cheio de sacadas interessantes, como as expressões que remetem ao universo de Dias Gomes ("para trás mente", "exagerância" e outros termos que caberiam na boca de Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado, por exemplo).
As atuações também têm sido satisfatórias, com destaque para o atormentado João Gibão de Sérgio Guizé, o rabugento Zico Rosado de José Mayer e o misterioso Professor Aristóbulo de Gabriel Braga Nunes sem falar nos gênios Tarcísio Meira e Fernanda Montenegro, que dispensam comentários. Por fim, a direção de arte caprichada e os efeitos especiais de última geração alimentam a fantasia e valorizam ainda mais a obra, arrebatadora por si só. Ao que tudo indica, a nova Saramandaia não deve dar tanta saudade da versão original como aconteceu com os remakes de Gabriela e Guerra dos Sexos. Dias Gomes ficaria orgulhoso.
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