| Foto: Ilustração: Robson Vilalba

Nas filmagens de Águia Solitária (1957), a cinebiografia de Charles Lindbergh, o primeiro piloto a encarar um voo transatlântico de Nova York a Paris, o diretor Billy Wilder (1906-2002) precisava de um dublê para voar de pé nas asas de um monomotor. O sujeito estaria preso a barras de segurança e teria de suportar algumas acrobacias do piloto. Pela proeza, o dublê quis cobrar US$ 1 mil (pouco mais de US$ 8 mil, se fosse hoje).

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Wilder achou o valor um absurdo e, depois de dispensar o sujeito, resolveu fazer ele mesmo a cena, cobrando cem dólares que, segundo o biógrafo Helmuth Karaseck, foram gastos em cerveja para a equipe de produção.

Águia Solitária, com James Stewart no papel principal, foi um dos títulos do meu "Fim de Semana Billy Wilder". A programação incluiu, em ordem cronológica, Amor na Tarde (1957), Cupido Não Tem Bandeira (1961) e Avanti!... Amantes à Italiana! (1972).

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Os quatro filmes não aparecem entre os principais trabalhos de Wilder, que é senhor de uma lista absurda de clássicos (absurda porque o homem estava em todas). De cabeça, sem apelar para o Google: Crepúsculos dos Deuses, Farrapo Humano, Pacto de Sangue, Quanto Mais Quente Melhor, Se Meu Apartamento Falasse, A Montanha dos Sete Abutres e sei que tem mais (anotou todos?).

Mas quis ver o lado B

Em Amor na Tarde, Maurice Chevalier faz o detetive pai de Audrey Hepburn, que se apaixona por Gary Cooper. A história é previsível e acaba bem, mas o que importa é o percurso – e ele inclui uma trilha sonora simpática, piadas boas e o constrangimento de Cooper. Ele é ator de personagens durões como o de Matar ou Morrer, mas ali faz o papel de um galã quaquilionário que vive de smoking. É divertido de ver.

Cupido Não Tem Bandeira interrompeu a aposentadoria de James Cagney, outro durão, e a história conta como um empresário americano, que trabalha para a Coca-Cola, tenta conquistar o mercado da Alemanha Oriental, socialista à época. Cagney interpreta o executivo que faz qualquer coisa para ascender na empresa, inclusive pajear a filha do chefe em viagem pela Europa. A menina mimada se apaixona por um jovem defensor do socialismo e, de novo, as piadas que Wilder cria com a situação são muito boas. (Não tento reproduzir nenhuma aqui para não p assar vergonha.)

O ponto alto do fim de semana foi Avanti! Para uma comédia americana escrita e dirigida por um cineasta do primeiro time, o filme é incrivelmente safado. Talvez por isso ninguém fale dele. Wilder parece ter se dado o direito de filmar uma comédia romântica sem vergonha nenhuma. De novo, é um roteiro bem amarrado, com tudo bonitinho (casal que se estranha no começo acaba se apaixonando), mas pontuado por piadas adultas e ambientado num cenário idílico, a ilha de Ischia, perto de Nápoles. Ele é safado porque investe nas cenas nudez, tanto de Jack Lemmon quanto de Juliet Mills, e nas piadas com piscadelas. A que usa o título do filme soa hilária e carinhosa ao mesmo tempo.

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Tentei pensar em exemplos atuais para os atores citados no texto, para dar ideia do que eles representavam para o cinema de então. Quem é o Gary Cooper de hoje? E a Audrey Hepburn? Ou o Jack Lemmon? Não consegui encontrar paralelos. Muito menos para o Wilder.

O cinema americano de hoje não é nada comparado ao que ele era no passado. E não digo isso por nostalgia. Os filmes que mais me interessam foram feitos muito antes de eu nascer (então não se trata de uma época que vivi e da qual sinto falta). Se você discorda, experimente ver um Billy Wilder. Qualquer um.

Knausgaard

Na coluna do dia 9 de fevereiro, escrevi sobre a obra impressionante do escritor norueguês Karl Ove Knausgaard. A boa notícia é que a Companhia das Letras deve publicar ainda neste mês o primeiro livro da série "Minha Luta", que soma seis. O título será A Morte do Pai e a tradução, direto do norueguês, é de Leonardo Pinto e Silva, o mesmo que traduziu O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder.

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