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 | Fabiola Mann/Divulgação
| Foto: Fabiola Mann/Divulgação

Abro a janela, e nem preciso de calendário para saber: o vento me sugere manga longa, apesar de eu usar regata. É outono.

A rua está deserta. No céu, conto sete nuvens. Muitas folhas no chão, ali, veja só.

O carnaval já se foi. Agora, será que vamos?

Amanhã é maio. Depois, junho, julho, agosto, dezembro.

Sabe, gostaria de dar um pause em tudo, e apenas caminhar em Curitiba no outono que tanto me agrada por causa desse vento – sentiu? – que sugere meia-voz, cálice de vinho e lençol.

Olhe, pare e veja esse céu. Já faz anos, uma amiga que mora em São Paulo passou uma semana aqui, e começou a procurar imóvel. Ela estava com vontade de morar em Curitiba. O motivo? "Esse azul do céu de Curitiba, Marcio, nem em Paris, nem no Rio de Janeiro", me disse, aquela amiga, que continua vivendo em São Paulo mas, a cada novo alô, ainda lembra daqueles dias de outono que viveu aqui.

Em 2003, outra amiga, de Belo Horizonte, passou uma semana de abril em Curitiba. Todo fim de tarde, depois dos compromissos profissionais, passeamos pela cidade. "Aqui, até parece que a felicidade é possível, Marcio. Me diga, me confirme. Felicidade é fácil em Curitiba, não é? Ou estou com o olhar embriagado de turista?", perguntava a mineira, que queria aproveitar cada instante e todos minutos daquele tempo livre que ela desejava que não terminasse.

Hoje, já não consigo mais atravessar madrugadas acordado. Começo a sentir o desgaste da passagem dos 37 outonos, mas, apesar do cansaço, ainda insisto em caminhar todos os dias, a exemplo do que estou fazendo agora.

Não. Antes de sair, pego o violão. Duas cordas arrebentaram, as mais agudas, a si e a mi. Mesmo assim, toco aquela canção do Violeta de Outono: "Canto do extremo do mundo/ espero em silêncio profundo". A música se chama "Outono". E é uma das minhas preferidas.

Já estou na rua e, olhando esse céu, me dá uma vontade de voar. Sim. Voar bem alto, lá em cima, como uma pássaro. Nem precisaria cantar, apenas ter asas.

Mas, olhe aqui, sigo nesta rua, um, dois, três, tantos outros passos.

Será que uma paixão que nasce no outono pode ser suave, sem desespero e arrebatadora como é esse outono?

Agora, sinto frio, o vento está mais forte do que há alguns minutos. As nuvens ficaram escuras e eu nem percebi por caminhar olhando para o chão, lembrando, pensando, esquecendo, sonhando.

A rua que me trouxe até aqui vai acabar e, daqui a pouco, terei de seguir por outro caminho.

Mas as ruas, as músicas, os livros, o outono, o mês de abril de 2011, este texto também, mesmo terminando, não terminam.

Para onde vou? Quem saberá?

Sei apenas que vou sentir muita saudade, desse vento, da mudança do silêncio, das manhãs das sextas-feiras e de todos vocês.

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