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 | Ilustração: Robson Vilalba
| Foto: Ilustração: Robson Vilalba

Romance

Uma Morte em Família

James Agee. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. Companhia das Letras, 360 págs., R$ 54.

Uma Morte em Família, o romance de James Agee (1909-1955) premiado com um Pulitzer e comum às listas de livros que não se pode deixar de ler, tinha fama de ser difícil, muito difícil de traduzir por causa da coloquialidade. Uma versão saiu no Brasil no início dos anos 1960, pouco depois da publicação póstuma nos EUA.

Para ter ideia, veja uma frase dita por Ralph num telefonema para o irmão Jay, que é pai de Rufus, o menino em torno de quem o romance orbita: "Cê me conta pra Mary como que a coisa tá, Jay. Não quero que ela fique pensano mal de mim de eu ligano assim...".

É o começo do século 20 e estamos em Knoxville, no estado norte-americano do Tennessee, onde nasceu o escritor. Agee tinha um ouvido extraordinário e uma capacidade ainda melhor de transformar o que ouvia em texto, talento visível também em Elogiemos os Homens Ilustres, trabalho sobre a Grande Depressão com fotografias de Walker Evans, igualmente complicado de verter para o português.

Os dois livros foram publicados pela Companhia das Letras e ambos, traduzidos pelo curitibano Caetano Waldrigues Galindo, responsável pelas soluções que aparecem na frase entre aspas do segundo parágrafo, dita por um sujeito do mato.

Rufus, o menino de Uma Morte em Família, é obviamente inspirado em Agee. Além de ter o mesmo nome (James Rufus Agee), o menino, assim como o autor, tinha 6 anos quando perdeu o pai.

Jay é chamado pelo irmão num telefonema no meio da noite para ajudar a cuidar do pai idoso. Ele deixa a mulher Mary e os filhos Rufus e Catherine para ir rápido até a casa dos pais, esperando voltar antes de os pequenos acordarem. Na volta, ele bate o carro.

A morte de Jay acerta a família como um direto de direita. Todos ficam atordoados, sem saber o que fazer. Agee reconstrói a angústia terrível dos momentos antes da confirmação da notícia – a angústia da espera –, e os mal-estares depois dela, com todos os problemas que precisam ser resolvidos, onde enterrar, como transportar o corpo, de quem comprar o caixão...

Agee é generoso com quase todos que aparecem na história e assim vários personagens são vívidos. Da atenção que o autor dá à família, a parte mais memorável, aquela que parece persistir depois que o livro acaba, é quando ele escreve sobre as crianças lidando com o fato. E por fato quero dizer a morte. Dormir para não acordar mais, o corpo do pai está ali, diante deles, mas o pai não está. Mesmo o fiapo de compreensão das crianças é surpreendente.

Adultos falam com Rufus, que não entende tudo o que dizem, mas consegue perceber muito. Ele sente quando uma determinada situação é grave, ou quando ouve algo importante, por mais confuso que seja.

Depois, o menino vai interagir com amigos e esse é dos momentos mais incríveis da história. O jeito das crianças falarem sobre a morte do pai do colega e o modo como Rufus se utiliza da morte para se impor entre os amiguinhos fazem justiça à noção de que o mundo habitado pelas crianças pode ser cruel pacas.

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