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Uns gostam de happy hour, outros de intervalos, como aulas de ioga, dança do ventre ou boliche. Eu, que já fui apaixonado pelas segundas-feiras, atualmente sou admirador ou, com mais precisão, dependente das noites dos sábados. Nem férias ou o bilhete premiado da Mega-Sena podem me proporcionar tanto entusiasmo, se bem que a bolada em dinheiro talvez mudasse tudo, não sei dizer.

Mas digo com alguma convicção: o que acontece durante a semana, riso e lágrimas, tudo parece ser um meio, preparação e ensaio para eu chegar até às 18 horas do sábado, quando, a menos que aconteça algum curto-circuito, desligo os relógios e sigo até a janela do meu quarto.

O tamanho da janela, não sei, mas é maior do que de uma grande tevê, dessas de plasma. A janela é a minha televisão, ou a minha tela de cinema. É por ali que olho e vejo, quando tem vento, cortinas em movimento em algum dos prédios vizinhos e, principalmente, percebo a passagem do tempo à medida que lâmpadas são acesas nos apartamentos e casas da região.

Confesso que no anoitecer dos sábados, costumo me hidratar. Mantenho por perto pelo menos seis ou sete garrafas. De água com gás. Já na primeira dose, abro o sorriso. A noite, que é, não uma criança, mas um mistério, está apenas começando.

Hoje, sou um baladeiro que fica em casa, mas viajo mesmo sem sair do lugar, pensando o que pode estar acontecendo em tantos pontos da cidade. Imagino alguns locais onde eu poderia ir, e chego a supor que vou.

A minha lembrança mais nítida da infância é um livro ilustrado do Aladdin. Eu virava as páginas daquela obra, que perdi, e queria mesmo era estar em cima do tapete voador para seguir por aí.

Se não tenho mais aquele livrinho inesquecível, viajo em cima de um tapete voador que só existe dentro da minha cabeça. E assim, sigo pela Avenida Vicente Machado, vejo a fila em frente ao James Bar, tem muita gente. Sobrevoo o Wonka, passo pelo Largo da Ordem e gostaria que houvesse sol nesta noite.

Se a noite se iluminasse, mesmo que por apenas sete minutos, eu iria, então, até um dos cenários de que mais gosto em Curitiba: o Parque São Lourenço, com aquele espelho de água que reflete a flora e a fauna.

Bebo mais um gole de água, ainda estou sobre o tapete e, pelo relógio, o sábado ainda será realidade por pelo menos mais uma hora. Gostaria que estivesse acontecendo uma festa no quarto piso do Paço da Liberdade – Sesc Paraná, o prédio curitibano dentro do qual me sinto mais vivo. E, incrível, ao descer do tapete voador, na Praça Generoso Marques, caminho em direção ao Paço e parece que algo acontece por lá.

Chego de fraque, a rigor, estou com a melhor roupa disponível na cidade, banho tomado, perfume discreto, comi bem e, então, um sujeito olha para mim, e diz: "Não te esqueças que és um palhaço." Paraliso. Quem é esse sujeito? Não o reconheço. Ele não me ofende, apenas diz o título de um poema do Fabrício Corsaletti: "Não te esqueças que és um palhaço."

"Francamente", respondo ao sujeito, e solto uma gargalhada que tem o efeito de fazer sumir a balada e me devolver ao quarto do apartamento onde atravesso as madrugadas. O sono está chegando, e preciso me entregar. Segunda-feira, com todas as suas exigências, está distante e, aconteça o que acontecer, ainda existe um domingo para passar aqui por essa tela, janela e ponto de partida para eu passear em cima de um tapete voador.

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