Há algumas semanas, publicamos no Caderno G uma matéria que revelou o perfil do leitor curitibano. Os números da pesquisa da Brain, Inteligência de Mercado e Estratégia mostraram que, na capital, o curitibano lê tão pouco quanto o brasileiro em geral. Na pesquisa, mais de 60% das pessoas afirmaram não ler nenhum livro naquele momento. Mais: 31% das pessoas conseguem terminar somente duas obras por ano e, a maioria delas, faz a chamada leitura utilitária, ou seja, diretamente relacionada com a área de trabalho, por exemplo.
Pensando nesses números de leitura, sempre considerados tão ruins(levantamentos nacionais da Câmara Brasileira do Livro apontam que os brasileiros consomem cerca de quatro livros por ano), me questiono sobre um certo paradoxo: as estatísticas dizem que a leitura é baixa. No entanto, pelo menos em Curitiba, o interesse das pessoas por exposições e outros eventos culturais parece só aumentar. Grandes shows, mesmo com ingressos salgados, lotam rapidamente.
As fotografias de Frida Kahlo, expostas no Museu Oscar Niemeyer (MON) desde julho, também vêm causando frisson: não há chuva que aplaque nos fins de semana as longas filas, tanto para entrar no MON quanto na sala da mostra, que costuma ficar lotada mesmo nos dias de semana. A abertura aconteceu em 17 de julho e, só naquele mês, o museu recebeu mais de 35 mil pessoas, um aumento de quase 80% em relação à média do primeiro semestre. No dia da abertura, foram 1,2 mil visitantes, o recorde em toda a história do MON em uma inauguração.
Outro fenômeno recente que passou pela cidade, vejam, é um escritor, que teve recepção de pop star na capital paranaense: o luso-angolano Valter Hugo Mãe. O anúncio de sua palestra, promovida pelo Litercultura foi uma surpresa: os ingressos para ouvi-lo na Capela Santa Maria acabaram em poucas horas e, no dia do evento, uma fila gigantesca se formou, com fãs esperançosos para ver Mãe. O autor, que passou vários dias em Curitiba, parece ter apreciado nossa cidade: seu Instagram ficou repleto de fotografias das ruas, dos grafites nos muros e de outros espaços que conheceu.
Esses dois exemplos ilustram uma ideia desconexa: não lemos, mas frequentamos eventos culturais. E, qual seria o motivo? Os palpites dos colegas nessa discussão foram vários, mas, talvez, a gente não queira ficar fora do evento. Ao passo que a leitura é uma atividade solitária, que não pode ser mostrada, compartilhada nas redes sociais. E a leitura também requer algo difícil: a solidão e o silêncio, o que, em certa medida, nos amedronta. Talvez, isso explique o porquê de preferirmos passear no museu, mas não carregarmos um livro conosco.Dê sua opiniãoVocê concorda com o editorial? Deixe seu comentário e participe do debate.