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Foi divulgada na última terça-feira a lista dos longas-metragens brasileiros inscritos para disputar a vaga brasileira na briga pelo Oscar 2009, referente às produções lançadas desde janeiro passado. O nome do escolhido deve ser divulgado hoje. Antes mesmo de saber quais seriam os concorrentes, eu apostava num título como franco favorito: Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, já em cartaz no Rio de Janeiro e São Paulo.

A produção havia sido muito elogiada pela crítica internacional quando exibida, em maio passado, no Festival de Cannes, do qual saiu com o prêmio de melhor atriz (para a estreante em cinema Sandra Corvelloni). E parecia ter todos os "predicados" e requisitos que costumam ser valorizados na categoria de melhor filme estrangeiro: temática social e com forte apelo emocional, uma trama envolvendo jovens e crianças da periferia e a assinatura de Walter Salles, já indicado na categoria de melhor filme estrangeiro uma vez, por Central do Brasil. Ainda por cima, Linha de Passe, que permanece inédito em Curitiba, vem recebendo elogios unânimes da imprensa nacional.

Portanto, quando recebi do Ministério da Cultura a lista dos concorrentes, foi com imensa surpresa que não encontrei o filme de Salles e Daniela entre os inscritos. Cheguei a pensar que algum erro havia sido cometido e a responder o e-mail com uma pergunta aos remetentes: "Linha de Passe não vai participar da seleção?". Horas mais tarde, a assessoria de imprensa do Ministério respondeu que os produtores não haviam colocado o longa no páreo. Ponto final.

Integrante da Academia de Artes de Ciências Cinematográficas e hoje membro votante da entidade, Walter Salles chegou perto de ganhar o primeiro Oscar em 1999. Central do Brasil venceu o Globo de Ouro, concedido pela Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood, mas perdeu a estatueta para o italiano A Vida É Bela, de Roberto Benigni. Em 2005, seu Diários de Motocicleta, sobre a juventude de Che Guevara, disputou o Oscar de melhor roteiro adaptado e venceu o de melhor canção, dado a Al Otro Lado del Río, do uruguaio Jorge Drexler.

Mas, desta vez, Salles quis ficar de fora. Talvez porque, depois de ter participado da festa – e do extenuante processo de campanha para a obtenção de uma vaga entre os finalistas ao prêmio –, o diretor carioca tenha ficado com preguiça de passar de novo por tudo aquilo. Ou ache que o cinema nacional não precisa do aval de Hollywood para se firmar. As hipóteses são várias e os diretores de Linha de Passe ainda não se manifestaram publicamente sobre o assunto. Talvez nem cheguem a fazê-lo.

Enquanto isso Linha de Passe segue nos cinemas (menos em Curitiba), para quem deseja assistir à vida como ela é no Brasil. Com ou sem Oscar.

Paulo Camargo é jornalista, editor do Caderno G e mantém o blog Central de Cinema no portal da Gazeta do Povo Online (www.gazetadopovo.com.br/blog/centraldecinema).

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