Você ama ou já amou alguém? De uma forma irracional, sensitiva, sem pedir retorno? Pois bem, é exatamente nesta sensação em que mergulhamos ao assistir ao filme Amor Pleno, do cineasta Terrence Malick, sujeito que dirigiu somente seis filmes ao longo de seus 40 anos de carreira. Números não se explicam por si só, mas com esse dado já temos uma ideia do cuidado do cineasta com sua obra.
Assim como nos trabalhos anteriores de Malick, Amor Pleno não é tão fácil de "digerir." A história não é contada de forma linear e os diálogos são substituídos em grande parte do tempo pela narração dos próprios personagens. Porém, é essencialmente poético, e nos faz refletir. Por isso, mesmo quem não gosta de filmes "cabeça" demais, deve dar uma chance a esse.
Fui ver Amor Pleno em uma sessão não muito cheia e com um público bem heterogêneo. Mais uma vez, constatei as diferentes reações de quem assiste a uma obra de Malick no cinema. São, basicamente, duas. Primeira: você fica tão embasbacado com a beleza do filme que mal consegue levantar da cadeira, e a pergunta "por que o cara fez um filme desses?" martela alguns dias na sua cabeça. A segunda: desaprovação e alívio. No fim da sessão, um sonoro "graças a Deus!", ecoou do fundo da sala. Virei a cabeça, mas só consegui enxergar um moço magro e loiro, com a boca entreaberta, olhando para a tela escura, provavelmente, vivendo a primeira reação que descrevi.
Na história, temos Neil (interpretado pelo galã Ben Affleck), um homem do tipo caladão que conhece a alegre Marina (Olga Kurylenko), uma expatriada ucraniana que mora em Paris com sua filha, Tatiana. Os dois vivem as descobertas e a paixão na capital francesa, belo cenário, diga-se de passagem. Pois bem, Neil chama Marina e a filha para morar em uma cidadezinha de Oklahoma, nos Estados Unidos, e tudo está ótimo até surgirem os primeiros desentendimentos. Somado a isso, ele reencontra uma antiga namorada.
Neil me pareceu um infeliz crônico, alguém que nunca está satisfeito e busca insistentemente as primeiras sensações da paixão, algo que, obviamente, se modifica com o tempo e convivência. Surgem ainda os conflitos e a angústia, mais visíveis em Marina, que encara como missão não perdê-lo.
Na crise, Marina busca refúgio na igreja local e pede apoio ao padre Quintana, vivido por Javier Barden, ator versátil que sempre me surpreende: ele consegue ir com destreza de um extremo a outro, do assassino ao galã mocinho. Porém, o padre que alenta os atormentados e vê diariamente os piores dramas humanos, também põe suas verdades em xeque, e começa a questionar a existência de Deus.
A inquietação dos personagens, mas principalmente a de Neil, me fez pensar em algo muito presente no mundo contemporâneo: somos insatisfeitos incuráveis. Até quando algo está bom, ainda falta aquilo que não sabemos muito bem o que é. No fundo, gostaríamos de parar de pensar tanto, e ficar em paz com o amor. Pleno, como o de Malick.
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