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No filme de Woody Allen, Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, ainda em cartaz, a garota linda que está prestes a se casar encoraja o vizinho escritor num flerte que tem tudo para acabar mal. "Eu não consigo me decidir", ela desabafa para ele a certa altura.

Além da noiva indecisa, a co­­média passa por vários personagens que saem de um relacionamento para entrar em outro, são abandonados e tentam reconstruir suas vidas, acham que está rolando um clima quando não está, e se frustram mais de uma vez.

Em meio a esses relacionamentos mal ajambrados, a história não tem nenhum caso de amor romântico, do tipo que o cinema adora explorar, capaz de vencer todas as adversidades, inclusive a morte. Homens e mulheres se interessam uns pelos outros, mas não há faíscas, febres ou loucuras. Todo mundo está meio perdido. Os casais se cansam de seus companheiros, temem a morte, não sabem o que querem. Ou sabem, mas ainda não se deram conta disso.

Poucos filmes fazem o que Woody Allen tem feito há pelo menos 30 anos: mostrar que, ao contrário da maioria das ficções românticas que chamam público, o amor depende muito do que você faz com ele. Não se trata de uma força avassaladora que arrasta a pessoa que ama para onde ela não quer ir. Isso combina mais com paixão e desejo.

O amor é difícil de suportar. Ele pode dar trabalho e exige sacrifícios. A rotina é massacrante às ve­­zes e os filmes costumam terminar quando a vida a dois está só começando. Rebecca Miller, no romance A Vida Íntima de Pippa Lee, escreve: "O amor é uma escolha", dito por Pippa Lee, uma mulher na casa dos 50 anos que vive dilemas relacionados ao marido muito mais velho.

Conheço um casal que se separou depois de 40 anos de casamento. Outro que acabou depois de 30. Um terceiro que durou dez. Mas também conheço um que está junto há 40 anos e, mesmo enfrentando problemas – e eles enfrentam vários –, não dão qualquer sinal de querer se separar. Em comum, essas histórias têm as decisões que foram tomadas para botar um fim na relação ou para continuar nela.

É o mesmo em Maridos e Esposas (1992). O melhor filme que Woody Allen fez na vida começa com a crise do casal Sally e Jack. Os dois anunciam que vão se separar para os amigos Gabe e Judy, também casados. Mesmo sem querer fazer drama acerca do rompimento, eles não conseguem evitar que os amigos também entrem em conflito – uma crise que, mais tarde, se revelará muito pior do que a deles. No fim, uns parecem que nunca deveriam ter se separado enquanto outros ficam melhor sozinhos.

Há mais de uma década, conversando com um terapeuta, ele me disse que, diariamente, ao acor­­dar, olhava para a mulher ainda dormindo e se perguntava: "Quero passar mais um dia ao lado dela?". Todos os dias, a resposta era "sim". Querer é essencial, mas o "sim" que ele respondia para si mesmo, dia após dia, era também uma escolha.

Não sei se o terapeuta continua casado nem se ainda está vivo – ele tinha idade, fumava muito e não conseguia largar –, mas foi a primeira vez que alguém me mostrou o motor funcionando debaixo da tampa de um relacionamento.

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