| Foto: Ilustração: Osvalter Urbinati

O psicanalista americano Stephen Grosz pegou 25 anos de experiência clínica e os colocou no livro The Examined Life ("A vida examinada", publicado há pouco nos Estados Unidos) na forma de textos que vão direto ao ponto: ele abre explicando o problema do paciente, conta o que aconteceu ao longo do tratamento e qual o desfecho do processo. Às vezes, o desfecho é bom, às vezes, é ruim. Em outras, parece que não há desfecho nenhum.

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Os textos, que oscilam entre cinco e dez páginas de extensão, não são técnicos, mas podem ser lidos com gosto por terapeutas e leigos (sejam eles pacientes ou não). Os episódios dão uma ideia boa de como funciona o processo psicanalítico, mas o maior feito de Grosz é se concentrar no que há de humano em cada caso. Ele explica que alterou nomes e algumas informações dos pacientes para preservar intimidades, mas manteve os dramas.

Um dos primeiros capítulos fala de um homem que tomava atitudes inexplicáveis – como se esconder numa igreja para esfaquear a si mesmo – e fazia sofrer as pessoas com quem convivia. O nome dele era Peter e, na tentativa de suicídio, foi salvo pela zeladora. Depois de se recuperar dos ferimentos, começou a fazer terapia.

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Para Grosz, todo mundo tenta dar sentido à própria vida contando histórias. "Mas Peter estava tomado por uma história que ele não conseguia contar. Como não tinha palavras, ele se expressava de outras formas", escreve o autor. "Quando não encontramos um meio de contar nossas histórias, nossas histórias é que tomam conta – nós sonhamos com elas, desenvolvemos sintomas, ou acabamos agindo de modos que não entendemos."

Meses mais tarde, Grosz soube que Peter, já adulto, teve uma conversa tensa com a mãe e ela acabou contando que ele apanhou muito quando era bebê. Porque os pais eram jovens, inexperientes e mal informados. A violência que ele sofreu conseguiu afetá-lo para sempre.

O psicanalista diz que procurou escrever sobre mudanças porque o trabalho dele é ajudar as pessoas a mudarem. "Mudança e perda estão profundamente conectadas – não pode haver mudança sem perda", escreve o autor.