Comida: a autor Michael Pollan durante a Flip 2014| Foto: Walter Craveiro/ Divulgação

Talvez eu esteja errada, mas a comida parece ter se transformado em algo complicado numa época ambígua: boa parte do mundo enfrenta uma epidemia de obesidade, ao mesmo tempo em que o apelo da comida saudável está cada dia mais forte. Além do sucesso dos blogs e blogueiras fitness, as cifras também são altas: esse mercado de alimentos e suplementos cresceu surpreendentes 40% entre 2012 e 2013, e movimentou cerca de R$ 20 bilhões.

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Nunca estivemos tão bem informados sobre o tema – além dos blogs, as revistas de circulação nacional vêm dedicando suas páginas ao assunto de forma recorrente. Mas, será que tanta informação é pertinente?

Pensei em escrever sobre o assunto – que acompanho e gosto – depois de uma conversa que ouvi no refeitório. Todos almoçavam suas marmitas quando reparei que, em um grupo, um dos integrantes comentou que ficava várias horas sem comer, porque, simplesmente, não tinha fome. A afirmação soou como uma heresia para as moças que o cercavam, que decretaram: "Você precisa comer de três em três horas, não pode fazer isso", máxima, aliás, repetida à exaustão pelos nutricionistas. O menino riu da comoção, e continuou sua refeição achando graça das colegas.

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O conselho, de acordo com vários profissionais, é benéfico por acelerar o metabolismo, e auxiliar no emagrecimento. Mas essa vigilância ao prato alheio, ao meu ver, está indo longe demais: muita gente é julgada ou admirada ao expor os seus hábitos alimentares. Se formos seguir os conselhos das blogueiras fitness ou de determinados nutricionistas à risca, precisaríamos de um dia com muitas horas a mais para comer a quantidade de alimentos "funcionais" e antioxidantes – outra moda que pegou. Pode reparar: quando algo é dito como "milagroso" (a bola da vez é a frutinha chinesa Goji Berry), ela some rapidamente das gôndolas do Mercado Municipal. Eu já vi até programas populares vendendo a iguaria em cápsulas, parceladas em diversas vezes, prometendo perder tantos quilos em poucas semanas, sem fazer mais nada. Ou seja: a lógica da propaganda prejudicial dos alimentos ultraprocessados que nos fazem tão mal – como os refrigerantes, por exemplo – é a mesma.

Saída

Mas, comer, por incrível que pareça, é simples. Quem prega essa ideia é o autor e jornalista norte-americano Michael Pollan, que esteve na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano. Na mesa, uma das mais concorridas do evento, ele repetiu alguns conselhos já detalhados em seus livros, como Em Defesa da Comida. Não é preciso, de acordo com Pollan, se pautar no "nutricionismo", ou seja, comer apenas pensando em determinada função ou nutriente. E sim, valorizar os vegetais, as preparações caseiras, ou, como diz uma das suas máximas, não comer nada que sua avó não reconheça como comida.

Além disso, Pollan nos propõe uma reflexão muito mais interessante do que a ordem vigente que, a cada momento, pega um alimento como vilão, ou torna um almoço na casa da avó no fim de semana como uma "jaca" ou "afronta" à dieta. O escritor alerta que é preciso ficarmos mais atentos à origem da comida – de onde vêm, como são tratados os animais que chegam à mesa. Para isso, é preciso voltarmos para a cozinha, teoria descrita com detalhes em sua obra mais recente: Cozinhar – Uma História Natural da Transformação. Para quem já anda exausto com tanta informação questionável sobre comida, as obras do autor são uma boa saída.

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