O nome de Israel Pedrosa, além de sua atuação em nossos meios artísticos, está ligado à teoria da cor inexistente, ou seja, "a cor que surje no fundo branco da tela, entre as tramas de várias gamas de uma mesma cor, levadas ao paroxismo por ação de contrastes". Trata-se de um fenômeno físico, escreve ele, "não de uma ilusão de ótica, e que, se eu conseguisse reproduzir num quadro as mesmas relações cromáticas, surgiria sobre o fundo branco da tela uma cor inexistente (que não fôra pintada), quimicamente sem suporte" (Na contramão dos preconceitos estéticos da era dos extremos. Rio: Léo Christiano Editorial, 2007).
Será um "fenômeno físico", como ele diz, mas é também uma ilusão de ótica, semelhante ao famoso "disco de Newton", que provoca, não uma, mas duas ilusões: "Há mais de 300 anos, [...] todos giram o disco com as sete cores do espectro, percebem que o resultado é um cinza-ocre bastante escuro, mas continuam afirmando que o disco em rotação produz o branco", falácia que se perpetua até hoje "nos livros de ciência e nas escolas no mundo inteiro". Físicos, químicos, fisiólogos e psicólogos de prestígio universal, acentua Israel Pedrosa, "utilizaram discos rotativos coloridos para diferentes experiências, mas em nenhum caso, de nenhuma forma, conseguiram produzir a sensação do branco".
Intrigante quanto seja, o fenômeno passou para a categoria das idéias-feitas, verdade didática evidente por si mesma, que ninguém pensa em discutir. Isso ocorre "pelo fato das cores do Disco de Newton, como as dos demais, serem cores-pigmento, cuja síntese é subtrativa; produzindo o cinza-neutro escuro, comumento denominado preto". Assim, "os raios luminosos refletidos pelas faixas coloridas do disco, pelo efeito de absorção (subtração) não corresponderem à totalidade dos componentes dos raios luminosos incidentes sobre elas".
Desnecessário dizer que a matéria escapa à competência da crítica literária, nos dois sentidos da palavra, enquanto campo específico de conhecimento e enquanto tópico diretamente relacionado com as letras, o que não acontece com outras partes desta miscelânea de trabalhos esparsos e heterogêneos, alguns claramente circunstanciais e "datados", como os comentários de momento sobre contingências da vida política e ideológica. Há, contudo, o capítulo reivindicativo sobre "A latência poética de Geir Campos" (1924-1999), poeta em vida consagrado pela crítica e que, entretanto, como tantos outros nas mesmas condições, desapareceu no buraco negro da história e da memória coletiva.
No lançamento de Canto de peixe & outros cantos, a imprensa cultural praticamente "não tomou conhecimento. Raras foram as vozes que surgiram para saudá-lo. Houve um quase silêncio. Em sussurro, seus fiéis leitores continuavam, apaixonadamente, a admirar o poeta. Seus livros esgotaram-se, e, inexplicavelmente, não surgiram reedições. Respeitáveis representantes de nossa inteligência continuavam a qualificá-lo raro, singular poeta, mas o pesado silêncio que baixara sobre sua obra poética era sufocante". Tornara-se, e continua sendo, um poeta confidencial, condenado ao silêncio por ser visto como esquerdista, assim como Ribeiro Couto sofreu o mesmo destino por ser visto como direitista.
São esses os critérios de julgamento na feira literária, nos quais a intenção polêmica, quando não caluniosa, toma o lugar dos vereditos objetivos e desinteressados. Ribeiro Couto foi "uma grande presença literária no Brasil nos anos trinta e quarenta do século XX", escreve Vasco Mariz, eleito para a Academia Brasileira de Letras aos 34 anos (o que, àquela altura, recomendava mal), vivendo no exterior praticamente a vida inteira como diplomata e falecendo em 1963 na capital francesa. Cumpria-se assim, com alguma ironia, o seu ideal de vida, escrevendo em francês e recebendo daqueles prêmios confidenciais que tornam os poetas mais confidenciais ainda.
Vejo-o como sentimentalmente ligado ao Brasil e literariamente ligado à França, como, aliás, a maioria dos seus contemporâneos e, em particular, do seu grupo de amigos. Depois do seu falecimento, "uma espécie de cortina caiu sobre a sua obra e deixou-o injustamente esquecido no Brasil por mais de trinta anos. Talvez tenha contribuído para isso sua aberta atitude política favorável ao ex-ditador Getúlio Vargas, algumas declarações suas foram consideradas pela esquerda brasileira como direitistas, o que levou alguns críticos literários a omitirem sistematicamente o seu nome e a sua obra" (Vasco Mariz. "Ribeiro Couto e a França". Revista Brasileira, n.º 48, julho-agosto-setembro 2006).
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