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São numerosos os escritores que transmigraram do Olímpio Acadêmico com todos os seus esplendores para transformar-se em figuras diáfanas nas charnecas nevoentas de Oblívion. Eles também deixaram a vida (literária) para entrar na história (da literatura) ou, se quisermos, das letras vivas para os anais da intelectualidade: caminharam em sentido inverso, do presente para o passado já que o futuro lhes era negado, rumo à ruinosa desmonetização. Mencionemos, entre centenas, Miguel Osório de Almeida e Medeiros e Albuquerque, Fernando Magalhães e Eduardo Prado, Afonso Arinos (o velho) e Miguel Couto, Paulo Setúbal e Alcântara Machado, João Ribeiro e Luís Guimarães Júnior, Vitor Viana e Múcio Leão, Humberto de Campos e Alberto Faria, João Luís Alves e Augusto de Lima, Luiz Murat e Laudelino Freire, Mário de Alencar e dom Aquino Correia, Domício da Gama e ..., lista infindável por definição, sendo elevada a taxa de mortalidade (no próprio e no figurado) entre os imortais. Exatamente um ano antes do escândalo acadêmico que ia provocar, dizia Graça Aranha que a Academia Brasileira, "graças ao seu quociente de mortos, jamais foi uma academia de mortos". Era o lado positivo da dialética existencial.

Recebendo Constâncio Alves, sem pensar em desencorajá-lo, Félix Pacheco temperou o seu discurso, em 1922 (data da Semana cuja notícia ainda não havia chegado ao Petit Trianon), com uma pitada de humor negro: "É, como vedes, um mundo de sombras", dizia a respeito dos antecessores. Claro, a Academia Brasileira ajustava-se e ainda se ajusta, à definição sardônica de Voltaire: "corporação onde se recebem titulares, homens bem situados, prelados, magistrados, médicos, geômetras e até escritores". Quem citava, e em francês, língua em que, àquela altura, se faziam todas as citações, era Aloísio de Castro, respondendo a Laudelino Freire, sucessor, mas não substituto, de Rui Barbosa (Academia Brasileira de Letras. Discursos acadêmicos. Tomo II, 1920 – 1935). Rio, 2006).

Não são raras as sucessões em que o novo acadêmico é o oposto exato do substituído, cabendo-lhe, entretanto, elogiá-lo segundo a fórmula consagrada do "elogio acadêmico". Lins do Rego infringiu-a em extemporâneo ataque a Ataulfo de Paiva, acadêmico paradigmático entre todos e vítima do fácil anedotário maledicente. Era homem de maneiras requintadas, inclusive pela distinção sartorial, contraste gritante com João Ribeiro a quem sucedia e a respeito de quem disse o que deveria ser dito sem descer a referências desprimorosas. Era "homem de boa companhia", como lá dizem os franceses para os que desejam na sua própria. Modelo de civilização e, por surpreendente que pareça, espírito moderno, aberto às novidades e ao progresso, entusiasmado com as conquistas de aviação (é verdade que chamando o avião de viatura alífera), e também à radiotelefonia, - "o mais hodierno e popular instrumento de correspondência universal... quotidianamente falando, contando para o país inteiro".

Tudo isso era dito em 1927, um ano antes da recepção de Roquette-Pinto, pioneiro da radiotelefonia que, recebido pelo mesmo Aloísio de Castro, não omitiu julgamento desfavorável ao antecessor, Osório Duque – Estrada, o "guarda-civil da literatura", apodo maldoso de que, aliás, se orgulhava. Roquette-Pinto (substituído por Álvaro Lins numa das mais rumorosas cerimônia de posse), antecipou-se ao juízo da posteridade: "Osório Duque-Estrada não tinha o temperamento de crítico... daí suas apreciações se extremarem em desmedidas apologias ou em condenações finais". Era um discípulo de Sílvio Romero, mais na maneira do que na substância, grupo bastante volumoso na crítica literária do tempo. Morreu lutando ou, pelo menos, na trincheira: "ardendo em febre, os olhos escandelacios de cansaço, Osório na sua Cadeira porfiou manter-se até o fim dos trabalhos, na última sessão a que assistiu [...]".

Era isso em 1928, altura em que Graça Aranha já havia lançado o seu ultimato revolucionário nos salões da Academia, à espera de que Guilherme de Almeida fosse o primeiro modernista (bastante moderado) eleito para a venerável instituição, em episódio que significava mais a academização do Modernismo que a modernização da Academia. DE qualquer maneira, eram os novos que chegavam e os velhos que sentiam ter soado o momento da retirada. Era o que Laudelino Freire reconhecia, em 1934, na recepção de Ribeiro Coutro: A velhice entre nós está em crise.. só a mocidade resistirá ao trágico desse encadeamento de coisas cruéis que o destino regula".

As academias se renovaram lentamente, mais por assimilação e desgaste que por deliberação consciente. Contudo, o tema passou a propor-se com insistência cada vez maior desde a proclamação revolucionária de Graça Aranha, em 1924. A tática não foi exacerbar os antagonismos pela polêmica, mas, antes, absorvê-los pela negação: "Não há ‘velhos’ e ‘novos’, não há ‘passadismo’ e ‘futurismo1 ", dizia A. J. Pereira da Silva em 1934, quando os ‘novos’ de outrora já estavam ‘velhos’, reiniciando mais uma vez a corrida do tempo.

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