Fundado em 1827 sob a forma de "um pequeno boletim de quatro páginas", modestamente "dedicado aos senhores comerciantes" do Rio de Janeiro, o Jornal do Commercio transformou-se em grande diário de opinião, com decisiva influência na política do Segundo Reinado e Primeira República. Seus editoriais "eram publicados sob a rubrica "Várias", abreviação do título da seção 'Várias notícias do Jornal do Commercio', que no início abrangia um noticiário geral e com o passar do tempo mudou de estilo e, além das informações políticas e econômicas, passou a registrar também a opinião do Jornal" (Cícero Sandroni. Jornal do Commercio: 180 anos. 1827 a 2007, de D. Pedro I a Luiz Inácio Lula da Silva. Rio: Quorum, 2007) subtítulo em que algum malicioso não deixará de notar a ironia, que embora involuntária, não deixa de ser devastadora. É, digamos, a ironia da História.
Em carta de 1909 a José Carlos Rodrigues, cujo nome por longo tempo se tornou epónimo do Jornal, dizia Félix Pacheco, outro dos seus prestigiosos diretores: "uma Vária nossa pode mudar comum e aceito que um "Consta" do Jornal do Commercio podia derrubar o gabinete ou, pelo menos, algum ministro enfraquecido. De fato, ao completar o primeiro ano, o jornal assumiu a responsabilidade política (no sentido largo e nobre da palavra) que estava na natureza profunda da nova conjuntura social: "Os Redatores do Jornal do Commercio participam aos seus assinantes que em conseqüência de reiteradas petições de muitas pessoas eles, de hoje em diante, tomarão as medidas necessárias para dedicar parte do seu jornal às notícias políticas, sem, contudo, prejudicarem em nada a parte comercial". Era, no rigor da expressão, um daqueles períodos que os historiadores costumam denominar "de transição", aliás superado pela força natural das coisas.
Foi, também o diário oficial da Academia Brasileira de Letras, refletindo-lhe a solenidade conservadora: jornal acadêmico em todos os sentidos, ante-sala da Academia em cujas eleições influía, com notável intercâmbio de personalidades. O Jornal publicava na íntegra os discursos de recepção, além de trabalhos carregados de erudição e, não raro, de estilo soporífero, tudo isso lhe valendo o apelido de "mastodonte" com que, segundo Bilac, o mimoseavam "os rapazes daquele tempo". Contudo, prestigiando as letras acadêmicas, o Jornal não recusava a literatura popular do folhetim, de acordo com os conceitos de Machado de Assis: o folhetinista "é a fusão admirável do útil e do fútil, o ponto curioso e singular do sério, consorciado com o frívolo [...] o folhetinista, na sociedade, ocupa o lugar do colibri na esfera vegetal [...]".
No caso, observa Cícero Sandroni, o mundo do folhetim pertenceu inicialmente aos "colibris" anônimos, "mas, com o correr do tempo, os autores passaram a assinar os folhetins e os leitores do Jornal leram, entre 1847 e 1848, textos de Martins Pena, um dos fundadores do teatro brasileiro, Francisco Otaviano de Almeida Rosa escreveu em A Semana, de 12 de dezembro de 1852 a 2 de julho de 1854. Joaquim Manoel de Macedo autor de A Moreninha, não assinava os seus folhetins, mas depois os marcou como seus, reunindo-os em volume, com os títulos Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro, Memórias da Rua do Ouvidor e Romances da Semana".
É claro que Alexandre Dumas não poderia faltar, mas órgão oficioso da Academia, o Jornal publicou, entretanto, em folhetim, o Triste Fim de Policarpo Quaresma, daquele Lima Barreto que a ilustre Companhia não hesitou em rejeitar. A sugestão partira do seu amigo João Melo, companheiro das rodas boêmias que, em face das péssimas condições financeiras do romancista, aconselhou-o a escrever um livro e levá-lo ao Jornal do Commercio, livro escrito "em menos de três meses, de uma arrancada só", sendo, no julgamento de Francisco de Assis Barbosa, "o mais bem composto e equilibrado dos seus romances". Diretor do jornal e futuro membro de Academia, Félix Pacheco não hesitou em publicá-lo, ganhando com isso a gratidão de Lima Barreto, cuja pena terrível escreveria o que passava por ser a caricatura do Correio da Manhã, cujo diretor jamais lhe perdoou.
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