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"Floris Delattre, que soube tão bem, em algumas linhas, definir o conjunto da crítica thibaudetiana, assinala que ela inaugurou ‘a crítica intuitiva, capaz não somente de penetrar no pensamento dos escritores, de se transportar ao interior da personalidade criadora, mas também de coincidir com ela...’ "

Essa influência não existe nem na Histoire de la littérature française, nem em La poésie de Stéphane Mallarmé, nem nas inúmeras réflexions sobre a literatura. As observações que faz sobre a língua um pouco providencial de Flaubert são tanto sociológicas quanto geográficas; eu o encararia de preferência como o "Brunetière libertino" de que fala André Rousseaux, dominado, vencido, quase destruído, pelo crítico filósofo que ele é, por esse "bergsoniano anterior a Bergson" que Ramon Fernandez identificou. "Antes de Bergson", isto é, que não chegou ao bergsonismo através dos livros, mas pela natureza mesma do seu espírito. É uma inteligência filosófica e, como tal, gostando das "vistas de conjunto" – sobre as paisagens, sobre os vinhos, sobre a literatura. Ele ultrapassa a geografia porque o seu fim não é a descrição da paisagem, mas a sua explicação, uma lição de ordem geral, quer dizer, filosófica.

Seu "lado Brunetière" aparece às vezes em certos cantos de páginas, em certos títulos, como o célebre Physiologie de la critique; sua natureza filosófica em tudo o mais, na extraordinária capacidade de estabelecer panoramas, na acuidade de que dispunha para o estudo da poesia – o seu livro sobre Mallarmé é incomparável –, o desembaraço com que se aventurava a uma viagem em profundidade como a que realizou pela filosofia de Bergson e a viagem em extensão pelos "trinta anos de vida francesa". A literatura – e já sentimos a largueza de sentido que atribuía à palavra – não era para ele nem uma paisagem, nem um vinhedo: era um "universo" do qual pretendia explicar os "universais". E aqui não se percebe a razão pela qual Jean Paulhan classificou-lhe a crítica de "doutrinal", nem porque André Rousseaux pensou melhorá-la chamando-a de "pedagógica". De minhas leituras, saio com a convicção de que não procurava ensinar mas conhecer: o pedagogo possui mais respostas do que perguntas; ora, o que habitualmente propunha eram perguntas.

Assim, para dar um exemplo concreto (mas trata-se de "posição" que lhe marca toda a crítica), ele afirma nos estudos sobre o "romance do prazer" e o "romance da dor": "eles indicam uma fonte de reflexão, uma presença de problemas, não resolvem quase nada". A tendência profunda revelada por essas palavras não é a do pedagogo, mas a do filósofo. Ele próprio o indicou ao falar de sua principal intenção, que era a de estudar o romance de acordo com o "plano de um curso de filosofia", antes com a vontade de conhecer que propriamente a de ensinar. A tendência profunda do seu espírito é a do conhecimento, e tanto mais visivelmente quanto a sua posição filosófica, de que depende toda a sua crítica, é, por natureza, "inaprendível": o bergsonismo só pode ser aceito pelos que, como ele, o "trazem no sangue", pelos que são bergsonianos antes de conhecer Bergson. Procurando explicar a literatura por meio das fecundas idéias bergsonianas da duração, do dinamismo, do "vivo", do "movediço", dava a impressão de que trabalhava para si mesmo, não em vista da publicação e da repercussão.

Esse suposto pedagogo seria, aliás, um mau modelo: "seus livros se apresentam desenvoltamente ramalhudos, atravancados, enredados", afirma Henri Clouard, pedagogo convencional. Ramon Fernandez também o observara, pouco antes, quase nos mesmos termos: "As obras a que se entregara mais inteiramente, como os Trente ans de vie française ou o Mallarmé, nem sempre são bem ordenadas, são estufadas, superabundantes, algo indigestas, e possuem, como ele próprio dizia com jovialidade, "uma consistência de sopa de Auvergnat em que a colher se mantém sozinha".

Elas carregam em enxurrada a montanha enorme de riquezas metafóricas e outras que se associavam a cada pensamento. Note-se que outros livros, mais apressados e limitados, e aos quais atribuía menor importância, como o Stendhal, são notáveis de ordem, de vivacidade e até de graça. Outra coisa que o afasta do pedagogo para aproximá-lo do filósofo é o grau de sua "presença" na obra. Encontro ainda em Ramon Fernandez a observação de que "nos seus diálogos com as obras, ele jamais procurava se impor". E também: "nele, a erudição não era acumulação mecânica mas função natural, vital". Floris Delattre, que soube tão bem, em algumas linhas, definir o conjunto da crítica thibaudetiana, assinala que ela inaugurou "a crítica intuitiva, capaz não somente de penetrar no pensamento dos escritores, de se transportar ao interior da personalidade criadora, mas também de coincidir com ela, de prolongá-la, de fazê-la, em certo modo, reviver, crítica fundada sobre o pensamento do filósofo e não se interessando senão pelo individual e pelo único, que assim se torna uma colaboração, quase uma criação que continua". Bergson tinha, pois, razão de nele reconhecer o seu discípulo "mais fiel, mais vivo, mais inteligente", o que acrescentara ao bergsonismo "um tão belo apêndice".

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