As editoras brasileiras não tiveram um único número positivo para comemorar em 2015.
Pelo menos é o que mostra a última edição da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, divulgada na manhã desta quarta-feira (1), na Livraria Martins Fontes, em São Paulo. O mercado livreiro encolheu 12,6% em 2015, o pior o desemprenho desde 2002, quando a retração foi de 14,5%. O faturamento foi de R$ 5,2 bilhões.
“Tem crianças na sala?”, chegou a brincar Marcos Pereira, presidente do Snel, antes do anúncio dos números.
O pior desempenho foi nas vendas do varejo, que diminuiram 3,99%, sem considerar a inflação. As vendas para o poder público, principal comprador de livros do país, tiveram uma queda mais modesta, de 0,9% no faturamento.
Em 2015, as editoras venderam 134 milhões de exemplares para o governo federal, estados e municípios. Isso é um número 10,6% menor do que no ano anterior. Em resumo: a desproporção entre queda no faturamento e nos exemplares vendidos mostra que os governos compraram mais caro.
A retração também aparece na própria produção de livros. Ano passado, o país imprimiu 54,6 milhões de exemplares a menos.
Mais da metade dessa queda deve-se principalmente ao setor de livros infantojuvenis, principal alvo das compras governamentais e uma das principais pernas de sustentação das editoras.
Foram produzidos 33,5 milhões de exemplares a menos nesse segmento, na comparação com 2014. O número, já esperado, tem uma explicação natural: ano passado, o governo federal não abriu edital do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola).
Não à toa, 2015 foi o ano em que selos infantojuvenis importantes foram encerrados pelas editoras.
Obras gerais sofrem o maior impacto
A venda dos livros comprados por vontade própria, pelo prazer de ler, foi a que mais sofreu, como prova a pesquisa. As editoras de ficção, não ficção e autoajuda - setor chamado no jargão de “obras gerais”- tiveram retração de 19% no seu faturamento, descontando a inflação.
Nesse grupo, estão as principais casas do país, como Sextante, Companhia das Letras, Record, Intrínseca e Ediouro, entre outras.
Outro ramo do mercado a sofrer com a crise foi o dos livros científicos, técnicos e profissionais. O encolhimento foi de 17,91% (contando a inflação).
“O agravamento da crise tira muita gente da faculdade, o que reduz a compra de livros desse tipo. Quem fica, opta pela xerox”, diz a pesquisadora Leda Paulani, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que faz o levantamento por encomenda da CBL (Câmara Brasileira do Livro) e do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).
Livros de colorir
Nem os livros de colorir, grande fenômeno editorial de 2015, foram capazes de estancar a sangria. A curiosidade é que os livros de arte, segmento no qual essas obras são contabilizadas, saltou de 519 mil para mais de sete milhões. Uma participação no mercado que saltou de quase zero, em 2014, para 1,6%, no ano passado.
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