Na TV, fiz poucas coisas marcantes. Fui rotulado com ‘três emes’: milionário, mulherengo e mau-caráter. E o pior, o público acredita que sou mau-caráter.” Walmor Chagas, ator| Foto: Edison Vara/PresspHoto

Filmografia

Walmor Chagas realizou seu desejo de fazer cinema em 1964, quando foi convidado pelo cineasta Luís Sérgio Person para ser o protagonista de São Paulo S.A., marco de sua carreira.

2008 – Mapa-Mundi, curta de Pedro Zimmermann (rodado em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, ainda não finalizado)

2006 – Bodas de Papel, de André Sturm

2007 – Valsa para Bruno Stein, de Paulo Nascimento

2001 – Histórias do Olhar, de Isa Alburquerque

2001 – Memórias Póstumas, de André Kotzel

1994 – Mil e Uma, de Susana de Moraes

1993 – Soneto do Desmantelo Blue, de Claudio Assis

1990 – Beijo 2348/72, de Walter Rogério

1988 – Banana Split, de Paulo Sérgio Almeida

1985 – Patriamada, de Tizuka Yamasaki

1983 – Parahyba, Mulher Macho, de Tizuka Yamasaki

1981 – Luz del Fuego, de David Neves

1981 – Filhos e Amantes, de Francisco Ramalho Jr.

1980 – Asa Branca - Um Sonho Brasileiro, de Djalma Limongi Batista e Berengar Pfahl

1979 – Memórias do Medo, de Alberto Graça

1978 – Joana Angélica, de Walter Lima Júnior

1976 – Xica da Silva, de Cacá Diegues

1976 – Um Homem Célebre, de Miguel Faria Jr.

1973 – Mestiça, a Escrava Indomável, de Lenita Perroy

1970 – Beto Rockfeller, de Olivier Perroy

1964 – São Paulo S/A., de Luís Sérgio Person

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Gramado - "Homenagem para os mortos." É assim, sem meias-palavras, que o ator Walmor Chagas define o prêmio que recebeu na noite de terça-feira (12), durante a 36ª edição do Festival de Cinema de Gramado, pelos seus 60 anos de carreiras nos palcos, no cinema e na televisão. "É uma sensação esquisita ser homenageado pelo que se fez no passado e não pelo que se está fazendo agora. Mas parece que este é o destino do velho ator", diz este porto-alegrense prestes a completar 77 anos, no próximo dia 28.

Durante entrevista que concedeu a jornalistas da imprensa nacional, no início da semana, o ator – de óculos escuros e fumando muito – disparou opiniões rabugentas, mas verdadeiras, sobre a televisão, o teatro e o cinema, além de fazer uma "queixa pessoal" contra o monopólio da indústria cultural norte-americana no Brasil, que o impediu de ser exclusivamente ator de cinema.

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"A situação do cinema brasileiro só muda com uma revolução econômica e cultural. Sou a favor de (Hugo) Chávez, (Evo) Morales, do Equador e todos os que são contra os Estados Unidos, nosso patrão colonizador, que frustrou o cinema brasileiro e a minha carreira." Confira trechos da entrevista.

Cinema X teatro

"No início, tive que escolher a carreira teatral, pois o país não permitia fazer cinema. Até hoje, poucos atores conseguem viver só de filmes. O ator de cinema deveria fazer só isso, pois é uma técnica muito diferente. Para mim, atividades artísticas de verdade são o cinema e o teatro. O teatro é o artesanato da calma. O cinema é o artesanato da ansiedade, pois o ator interpreta em pedaços, só vê o trabalho inteiro depois que ele está montado. Isso neurotiza o ator. Por isso, acho que esta é uma arte que exige profissionais experimentados.

Na época em que eu fazia teatro, autores como Ionesco, Edward Albee e Tennessee Williams, por exemplo, davam conhecimento novo para o mundo. Aí o cinema tomou conta destes temas e tornou-se mais interessante do que o teatro. Com 18 anos, eu morava na Rua Santo Antônio, em Porto Alegre, e ia ao cinema ver os atores americanos. Queria fazer cinema, o teatro para mim já era postiço, antigo. Mas não havia possibilidade, fiz o primeiro filme profissional (São Paulo S.A., de Luís Sérgio Person), depois de 15 anos de labuta teatral, aos 34 anos. Sou um exemplo de como os americanos sufocaram não só o cinema, mas as pessoas. Eu fui sufocado. "

São Paulo S.A.

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"São Paulo S.A. foi um presente que o Person me deu na vida. Na época, a crítica não gostava tanto, não. Havia muita rivalidade, o cinema só podia ser feito no Rio de Janeiro. Fomos levar o filme ao Festival de Acapulco e o Luís Buñuel (diretor espanhol de O Cão Andaluz, entre outros filmes) me disse: ‘Que ator maravilhoso que você é’. Então, achei que finalmente havia começado minha carreira cinematográfica. Voltei para o Brasil e fiquei sem filmar por cinco ou seis anos. Que idiota!"

Deuses

"Tudo o que era americano a gente gostava, os atores eram deuses. Eu era garoto, provinciano, vivia em uma cidade onde o cinema era muito distante. Muitos me inspirariam, de Humphrey Bogart ao comediante Bob Hope. Mas o predomínio de filmes americanos impede que o cinema nacional se desenvolva. Quem no Brasil pode dizer ‘eu sou um profissional de cinema?’ A gente tem que criar cota, acabar com o cinema americano aqui. No teatro, fiz peças americanas, claro, mas as que fiz, de Tennessee Williams e Edward Albee, mostravam não a frente do país, mas o que tem atrás."

Televisão

"Televisão não é produto cultural, mas industrial. A telenovela está baseada em produtos do século 19, o folhetim, o romance, é um enredo filmado com velocidade. É um cadinho, está tudo misturado ali: Shakespeare, Flaubert... Os personagens do cinema e do teatro são estudados pelo ator. Mas, na TV, ele está à mercê, nem se dedica. A TV não conta como produto artístico para o ator. Tenho vontade de fazer qualquer filme, filmando me sinto vivo, atual, moderno. A imagem quando veio mudou tudo, teatro não tem imagem, é catarse coletiva. No cinema eu não morro, vou até o fim. Eu não agüento é novela! Nas minhas últimas quatro novelas morri logo no começo. "

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Preferências

"Meus papéis preferidos no cinema são São Paulo S.A. e Valsa para Bruno Stein. Não considero o Chica da Silva, porque era conduzido por Zezé Motta. No Luz del Fuego, eu era conduzido por Lucélia Santos. Na maior parte dos filmes que fiz, fui coadjuvante.

Na TV, fiz poucas coisas marcantes. Fui rotulado com ‘três emes’: milionário, mulherengo e mau-caráter. E o pior, o público acredita que sou mau-caráter. Cito Os Maias e a novela Vereda Tropical, que era uma comédia divertida. No teatro, há várias peças: Quem Tem Medo de Virginia Woolf e A Noite da Iguana. O mestre, na época, era o (Zbigniew Marian) Ziembinski. Mudamos todo o nosso modo de representar com a chegada deste eslavo. Os eslavos seguem o método de (Constantin) Stanislavski, mais cinematográfico, moderno como os atores norte-americanos. É um teatro que mais pensa do que faz."

Tráfico e violência

"Nunca fui muito fã de filme de polícia e bandido (como Tropa de Elite e Cidade de Deus). Isso é tema de jornal. Acho que quem faz esses filmes é contra a liberação das drogas. Eu sou a favor, não acho que o Estado tem que ser o pai da gente. É a ‘farofavela’. Mas uma hora a gente esgota e vai criar personagens torturadores, generais da ditadura brasileira. Nisso não se toca. Que cinema vamos ter na ausência da política? A dramaturgia alemã não se cansa de explorar o nazismo. O assunto é o tema de fundo dos filmes, que interessa para cada alemão. O nosso pano de fundo é a Baía de Guanabara, o Carnaval."

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A jornalista viajou a convite do Festival de Cinema de Gramado.