Num festival de teatro com dezenas, às vezes centenas, de peças, o mais difícil para o público é saber o que vale a pena ver. Os próprios críticos, que têm acesso mais fácil às informações, correm o risco de ver o que não tem muito valor e perder o mais interessante da festa. No Festival de Teatro Curitiba deste ano, os jornalistas se rebelaram contra a situação e fizeram uma carta-protesto à organização, pedindo menos peças e mais qualidade.
O Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, que acontece nesta semana no interior de São Paulo, está tentando dar um primeiro passo para corrigir este problema. Em sua 6.ª edição internacional, o festival, que vem se firmando como um dos maiores e melhores do país, decidiu fazer uma espécie de "controle de qualidade" do material que vem apresentando. Colocou seis profissionais para assistir a todos os espetáculos nacionais. Os comentários são publicados em seguida, tanto na internet quanto em um jornal diário que a organização roda e distribui pela cidade.
Os resenhistas podem ser artistas e críticos. Em cada um dos 44 espetáculos, pelo menos dois estão presentes. Os textos são individuais e o público tem acesso a pelo menos duas opiniões sobre cada peça. Claro que o sistema tem falhas. Se houver uma única apresentação, a platéia lerá os comentários sem poder ir à próxima sessão. E os convites muitas vezes esgotam antes das primeiras apresentações. Mas é uma primeira tentativa. Haverá uma forma de acompanhar pelos textos a qualidade geral do festival coisa que não acontece em Curitiba, por exemplo, em que o Fringe, além de não ter curadoria, não tem retorno de qualidade nenhum.
Programação
O Festival de Rio Preto tem 50 peças neste ano. São 44 nacionais e seis estrangeiras: de Chile, Espanha, Benin, França, Rússia e Peru, além de uma co-produção Brasil-Portugal. A abertura ficou por conta do grupo Galpão, de Belo Horizonte, com a belíssima Um Moliére Imaginário. O grupo também apresentou sua mais nova atração, o brechtiano Um Homem É um Homem, que já passou pelo Festival de Curitiba neste ano.
No entanto, talvez a grande atração do primeiro fim de semana do festival tenha sido mesmo Assombrações do Recife Velho, da companhia paulista Os Fofos Encenam. A peça é baseada nos escritos do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, conhecido principalmente pelo clássico Casa-Grande e Senzala. Freyre registrou histórias de fantasmas e espíritos em que a população da capital pernambucana acreditava em outros tempos.
O material serviu de base para o texto da peça, escrito pelo pernambucano radicado em São Paulo Newton Moreno. Desde Agreste, de 2004, Moreno vem sendo considerado uma das grandes revelações da dramaturgia brasileira. E agora mostrou novamente o motivo dos elogios. A peça, que dura duas horas e é encenada a partir da meia-noite em um casarão isolado da cidade, mantém o público preso a cada uma das histórias. Não há truques baratos nem sustos. Também não é uma peça de suspense. Há momentos de grande drama, mas também muito senso de humor. Não fosse por mais nada, teria valido a edição do festival de Rio Preto.
O repórter viajou a convite da organização do festival.
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