Em seu quarto disco, a banda gaúcha Cachorro Grande resolveu correr um risco: um mês antes de colocar "Todos os tempos" nas prateleiras das lojas, o grupo fez uma jogada ousada e colocou todas as faixas à venda na web, além de lançar simultaneamente um belo site com o processo de criação do álbum. Nos tempos em que as grandes gravadoras decidem contra-atacar a pirataria reeditando os finados EPs, o grupo gaúcho se joga aos leões sem medo.
- É uma maneira das pessoas conhecerem as músicas antes mesmo do disco chegar nas lojas e criar uma expectativa. A gente sabe que isso não impede a pirataria, mas quem gostar das músicas vai querer comprar o disco - explica o vocalista Beto Bruno.
Por R$ 1,69, é possível baixar uma faixa do disco. Completo, ele sai a R$ 16,90. Nas lojas a partir do dia 5 de junho, o CD - que está em pré-venda pelo site da Deckdisc - sairá a R$ 21,90.
Mas a autoconfiança de Beto Bruno tem sua razão de ser: "Todos os tempos" pode ser considerado o trabalho mais "maduro" da banda, se é que podemos chamar dessa maneira. Gravado ao vivo, o disco apresenta uma sonoridade enérgica, visceral. Em uma comparação simplista, poderíamos chamar o Cachorro Grande do "Oasis brasileiro", mas não é tão simples assim. No balaio do grupo, além de Beatles e Rolling Stones, há a influência de Mutantes, Kinks, The Who, Primal Scream, Supergrass e até Neil Young, resultando em uma mistura que soa muito bem em português.
O som
A influência dos Beatles é tão grande que Bruno afirmou que o "Todos os tempos" é o resultado de um processo de "revolverização" do Cachorro Grande, uma referência ao momento de experimentação dos rapazes de Liverpool durante o disco "Revolver", lançado em 1966.
- Nós estamos juntos por causa dos Beatles. A partir deles começamos a ouvir Stones e The Who e a cabeça começou a abrir, até chegar a bandas mais novas, como Primal Scream e Stone Roses. A gente ama mesmo esse tipo de música e tem orgulho em fazer parecido.
Esta não foi a primeira vez que a banda gravou um disco ao vivo, mas "Todos os tempos" teve um sabor especial.
- Nosso segundo disco também foi gravado ao vivo, mas nós chegamos ao estúdio com essa intenção, tínhamos ensaiando antes. Esse foi uma surpresa. Chegamos no estúdio e, quando começamos, o som estava tão bom que resolvemos gravar de primeira, até com a voz isso aconteceu. Não foi uma coisa cogitada antes, aconteceu ali.
Para Beto Bruno, essa forma de trabalho fez uma grande diferença no resultado. Em "Todos os tempos", praticamente todos os integrantes dão uma palhinha ao microfone, até o baterista, Gabriel Azambuja, assume os vocais (e a letra) da balada "Nada pra fazer".
- Antes as músicas eram divididas só entre eu e o (Marcelo) Gross. Hoje, está rolando de todo mundo. Todos têm que aparecer com música. O que importa é o melhor material.
Mas o fato do disco ter sido gravado ao vivo não quer dizer que o show vá soar exatamente como a gravação.
- Já estamos tocando algumas músicas novas nos shows, mas elas estão mais cruas. Acho muita falta de criatividade ficar tocando igual ao disco. Fica até chato para o músico, sair em turnê por dois anos tocando as músicas do mesmo jeito. Não vejo finalidade nisso. Pra ir a um show e ele ser igual ao disco, eu prefiro ficar em casa ouvindo o disco - brincou.
Mas não é só o disco novo do grupo que chama atenção. O site lançado para divulgar o CD - www.todosostempos.com.br também é uma boa surpresa. Nele, a capa do disco é reproduzida e as imagens guardam, quase que como segredos, informações e imagens de bastidores da produção do disco.
- Quando eu escuto os Rolling Stones, eu fico imaginando como teria sido a criação. Registramos as gravações do disco com câmera na mão. Vendo as imagens depois, achamos bacana que as pessoas pudessem ligar as músicas às imagens e fizemos questão de mostrar isso.
Pelo rock
A banda está morando em São Paulo há três anos e, segundo Beto Bruno, foi quando as coisas realmente começaram a acontecer, antes mesmo do lançamento do "Acústico MTV Bandas Gaúchas", em 2005.
- Fazemos tudo pelo rock. Agora nosso trabalho reflete em outros lugares. Estamos no centro do país. É a mesma sensação de sair do Campeonato Gaúcho para jogar no Brasileirão - compara.
Ele lembra que é muito difícil que um grupo como o Cachorro Grande, que sai do underground de uma cidade fora do eixo Rio-SP, alcance a popularidade que conquistou. Para ele, o fato de ter começado de baixo e estar subindo aos poucos é recompensador.
- Estar onde estamos hoje é maravilhoso. Se fosse no primeiro disco não estaríamos aproveitando como agora. Hoje, a gente é super pé no chão. A gente não é uma bandinha que aparece de uma hora para outra e some depois. A cada disco subimos mais um degrau. Enquanto isso, a gente vai se divertindo.