Veio a maioridade. E não é que, aparentemente, o Festival de Curitiba cresceu? Em sua 22ª edição, o evento que começa nesta terça-feira exibe uma programação cunhada nos mesmos moldes dos anos anteriores: traz obras de dramaturgia nacional, foca na fusão de linguagens, reserva lugar para alguns experimentos e elege uma boa parcela de títulos atraentes para o grande público.
A equipe de curadores, Celso Curi, Lucia Camargo e Thania Brandão, também se mantém intacta há cinco anos. "A receita é a mesma", garante Leandro Knolpfholz, diretor do Festival. Mas o resultado, de alguma forma, é diferente.
Neste ano, os antes onipresentes musicais à maneira da Broadway saíram de cena. Criações de médio porte que se destacaram na última temporada angariaram espaço considerável. A presença de títulos internacionais cresceu. Também chegou a tão ansiada rotatividade: não se vê mais a oferta viciada que manteve os mesmos grupos e diretores por anos na grade.
No entanto, o sinal mais contundente de que essa edição pode se distinguir está no fato de a mostra ter deixado a posição passiva de apenas amealhar o que se faz no País e passar a atuar como coprodutora. São quatro as montagens nas quais o festival investiu de maneira direta: "Homem Vertente", espetáculo em parceria com a companhia argentina Ojalá, "Música em Cena", da cantora Cida Moreira, além das peças "Parlapatões Revisitam Angeli" e "Cine Monstro Versão 1.0", de Enrique Diaz. "A intenção é viabilizar propostas que não poderiam estar no festival de outra maneira", aponta Knolpfholz. "Alguns são espetáculos que não ficariam prontos a tempo se a gente não desse um empurrão. Outros são desafios, ideias que a gente propôs. Não temos a pretensão de mudar os rumos das coisas, mas queríamos experimentar interferir na produção, como outros grandes festivais do mundo costumam fazer."
Até o dia 7 de abril, a capital paranaense recebe 32 espetáculos selecionados para o festival, nove deles estreias nacionais. A quantidade é equivalente a de outras edições. Porém, alguns recortes propostos pela curadoria também ajudaram a mudar as feições do evento. Um mesmo texto será apresentado em duas versões: "The Pillowman", de São Paulo, e "O Homem Travesseiro", do Rio, partem ambos da obra do inglês Martin McDonagh.
Outra mudança a ser comemorada: a lacuna deixada pelos grandes musicais foi ocupada por produções, de diferentes estilos e origens, que utilizam a música em sua concepção. "São criações em que a música não é utilizada apenas como pano de fundo, mas como protagonista da cena", diz o diretor do festival. Ele se refere a espetáculos como "Os Bem-Intencionados" - em que o grupo Lume, de Campinas, abandona momentaneamente seu olhar para o trabalho corporal para se lançar em uma proposta que valoriza a dramaturgia e, nessa esteira, uma série de canções. Também despontam nesse contexto peças como "Gonzagão - A Lenda" e "Pansori Brecht", uma releitura rock do clássico "Mãe Coragem", vinda da Coreia. "Essa utilização diferente da música não acontecia apenas aqui, mas em outros lugares do mundo."
A programação paralela do Festival costuma despertar tanta atenção quanto a lista de eleitos pela curadoria. Apesar disso, os problemas que atingem essa parcela do evento parecem longe de encontrar uma solução. Inspirado pelo Festival de Edimburgo, o Fringe de Curitiba é um espaço sem seleção, livre para quem quiser participar. Em 2013, a cidade verá 376 peças inscritas nessa categoria.