Não bastava Mario Monicelli. O mundo da comédia ainda tinha de perder, neste ano, Blake Edwards. Não só da comédia, mas do cinema em geral. Ele morreu anteontem, aos 88 anos, de complicações provocadas por pneumonia. Embora a comédia tenha sido o território que mais fixou Edwards como diretor, havia em seus trabalhos, sempre, mesmo burlescos, um quê de amargura. Como não se comover, por exemplo, com a injustiça que, filme após filme, se abatia sobre o pobre inspetor Dreyfus de A Pantera Cor-de-Rosa (1963)? Um dos pontos fortes de Edwards era este: permitir que, em plena efusão cômica, o drama se infiltrasse ou vice-versa, como no por vários motivos terrível Vício Maldito (1962), filme em que Jack Lemmon, alcoólatra, induz a mulher a também beber, de modo a terem isso em comum.
No drama, como se sabe, obtém-se mais respeito do que em comédias como Anáguas a Bordo (1959) ou A Corrida do Século (1965). Mas se o auge do prestígio Edwards alcançou ao dirigir a notável comédia dramática Bonequinha de Luxo, em 1961, a imortalidade cinematográfica se deu, de fato, com a série de Pantera Cor-de-Rosa, talvez o ponto alto da carreira de Peter Sellers. É verdade que explorou a série até um pouco demais: depois da morte de Sellers, juntou sobras de velhos filmes para fazer A Trilha da Pantera Cor-de-Rosa (1982). Não pegou bem. E, na verdade, Edwards parece por um tempo ter perdido a veia cômica que ostentava desde os tempos em que escrevia roteiros (em especial para filmes dirigidos por Richard Quine).
O encanto ele reencontrou quando optou por explorar os dotes de atriz de sua mulher, Julie Andrews, com o memorável musical Victor ou Victoria (1982), outra demonstração de sua capacidade de juntar o grave e o cômico (que lhe valeu, de resto, a indicação ao Oscar por roteiro adaptado). Não foi, por certo, seu último suspiro: houve os momentos deploráveis ao lado de um comediante fraco como Dudley Moore, aventuras cheias de humor como Encontro às Escuras (1987) e alguns filmes para televisão até a aposentadoria em 1995. Depois, um Oscar honorário ganho em 2004. É o famoso Oscar pé na cova: quem ganha costuma morrer logo em seguida. Blake ainda duraria seis anos. Riu por último.
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