Adolf Hitler está de volta. Os alemães acordaram na quinta-feira vendo o rosto do ditador nazista em outdoors divulgando uma nova comédia do cineasta suíço Dani Levy - uma visão chocante para um país ainda assombrado pelo Holocausto e por seu próprio passado belicoso.
Líderes da comunidade judaica alemã criticaram duramente a comédia que rompe tabus ao zombar de Adolf Hitler. Muitos críticos já se manifestaram contra o filme, dizendo que simplesmente não é engraçado. O longa faz sua estréia mundial nesta quinta-feira.
``Levy cometeu uma negligência grosseira'', disse Stephan Kramer, líder do Conselho Central de Judeus na Alemanha, referindo-se ao diretor, que também é judeu e cuja mãe escapou dos nazistas.
``O filme é superficial, supérfluo e até mesmo perigoso'', ele escreveu no jornal Die Zeit. ``Diante do fato de que os nazistas mataram milhões de pessoas, não consigo rir dele.''
O filme, cujo nome em português seria ``Meu Fuehrer: a Verdade Verdadeiramente Mais Verdadeira sobre Adolf Hitler'', estreou em circuito relativamente amplo, em 250 cinemas. E provocou uma discussão nacional - que os distribuidores imaginam que irá reforçar sua bilheteria - em torno da pergunta: os alemães são autorizados a rir de Hitler?
O conhecido escritor judeu alemão Ralph Giordano, 83 anos, disse à televisão N-tv: ``Acho difícil rir de Hitler. Não existe proibição a sátiras a Hitler neste país. Mas, a julgar pelo que já ouvi sobre o filme, é um fracasso, uma coisa que passou longe do alvo.''
Engraçado ou revoltante?
Levy, 48 anos, retrata Hitler como um homem que sofria de incontinência urinária e problemas de ereção. Na história fictícia, um professor de atuação judeu que é tirado de um campo de concentração para ajudar Hitler, que está deprimido com o rumo da guerra, a preparar seu discurso de Ano Novo.
Hitler está tendo um mau dia. Acidentalmente, cortaram fora metade do bigode que é sua marca registrada. Ele molha o pijama, perde sua autoconfiança e sente-se ainda mais humilhado quando sofre de impotência ao lado de Eva Braun.
O crítico Volker Behrens, do jornal Hamburger Abendblatt, escreveu sobre o filme: ``Primeiro você ri, depois você reflete e então você chora.''
Para a revista Focus, ``Levy tentou ridicularizar Hitler, mas a sátira política do filme não funciona.''
O jornal diário mais vendido da Alemanha, Bild, indagou em sua manchete de quinta-feira: ``O filme sobre Hitler é engraçado ou revoltante?''
Mas um crítico do jornal, Gernot Gricksch, escreveu: ``Mesmo que a farsa nazista criada por Levy não chegue aos pés de filmes anteriores de Chaplin e Ernst Lubitsch, ele é corajoso, amargamente malévolo - e surpreendentemente divertido.''
O produtor do filme disse que ele e Levy estavam preparados para uma forte reação negativa fora da Alemanha. Mas o filme já suscitou interesse de distribuidores no exterior.
Michael Wolffsohn, pensador judeu de destaque na Alemanha e professor de história em Munique, disse ao jornal online Netzeitung que o filme foi feito por uma razão simples.
``Quem pode querer transformar Hitler em objeto de zombaria, senão alguém que quer ganhar dinheiro com ele?'' ele indagou. ''Percebe-se que esse é o motivo real, e isso é perturbador.''