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O atual elenco de CSI | /Divulgação
O atual elenco de CSI| Foto: /Divulgação

Quando um crítico se refere a um momento na televisão como seminal, está geralmente empregando uma hipérbole. Ainda mais em um momento de efervescência, em que somente nos Estados Unidos foram produzidos mais de 400 roteiros de séries para TV em 2015.

Mas alguns momentos são, simplesmente, seminais. Não por falta de uma palavra melhor; simplesmente porque são. O dia 6 de outubro de 2000 contém um destes momentos. Naquela noite, o canal americano CBS estreou um programa chamado “CSI: Crime Scene Investigation”.

Na quinta-feira (12), entre uma série de outros programas, a última reedição de “CSI” - chamado “CSI: Cyber” - foi cancelada com outros programas. Com esse golpe de guilhotina, a CBS oficialmente encerrou a era “CSI”, que durou 16 anos e cerca de 800 episódios reproduzidos por todo o mundo.

Em um panorama televisivo em que destacar-se na multidão é incrivelmente difícil - se destacar pelos números absolutos só com algo extraordinário e a proliferação de plataformas de entrega representou um segundo golpe -, o sucesso de “CSI” permanece algo singular. A série original durou 15 temporadas e desmembrou-se em três outras - “CSI: Miami”, “CSI: NY” e “CSI: Cyber” -, além de uma geração de outros programas, como Bones e o superpopular “NCIS”. Ao longo destes 16 anos, a franquia foi protagonizada por estrelas como David Caruso, Ted Danson, Patricia Arquette e Gary Sinise.

Em 2006, o instituto Nielsen registrou que 70 milhões de pessoas assistiram a um episódio de “CSI”. Foi metade da audiência do Super Bowl, o programa de televisão mais visto dos Estados Unidos - e a final do futebol americano é exibida uma vez no ano, não semanalmente.

Ovelha negra

Mas a série nem sempre foi vista como uma grande atração da indústria. Longe disso, na verdade. A estreia quase não foi ao ar. E quando foi, era considerada uma ovelha negra, apenas um experimento enquanto a CBS se concentrava em sua grade principal, de acordo com o crítico e historiador de TV, Alan Sepinwall. Mesmo assim, os críticos não se empolgaram. O próprio Sepinwall admite que foi o show em que fez a “mais errada previsão do seu sucesso comercial com base no piloto”.

“Se você perguntasse para a maioria dos executivos da CBS na época, eles diriam que estavam mais empolgados com ‘O Fugitivo’ e não estavam seguros quanto a como os espectadores reagiriam a ‘CSI’. Mas que ainda assim a série era um experimento interessante”, escreveu Sepinwall. “Disney gastou uma fortuna com ‘CSI’. Não apenas uma vez, mas duas. Primeiro, quando a rede não encomendou a série. Depois, quando seu próprio estúdio decidiu abrir mão da participação acionária na série e a Disney manteve o investimento por sentir que valia a pena.”

A crítica errou nas suas previsões em parte porque “CSI” era diferente da maioria dos outros mais palatáveis seriados exibidos no horário nobre, especialmente se comparado às outras séries criminais. Enquanto as demais atrações se concentravam mais em aspectos de confronto com as forças da lei - as prisões, perseguições e interrogatórios -, “CSI” dramatizou a coleta de evidências, o teste de DNA, a ciência que era deixada de fora das cenas dos outros shows. Isso foi 16 anos atrás, claro. Antes de “CSI” se tornar o seriado mais assistido não dos Estados Unidos, mas do mundo; não por um ano, mas cinco.

Efeitos no mundo real

O show se tornou tão popular que teve efeitos no mundo real. De acordo com o “Guia de Graduação em Antropologia”, o seriado e seus similares estimularam “uma nova geração de estudantes a entrar no campo da antropologia forense”.

Em parceria com a CBS, o Museu Fort Worth de Ciência e História dos Estados Unidos recebeu US$ 2,4 milhões da Fundação Nacional de Ciência para criar uma exposição de ciência forense. A mostra foi aberta em 2007, no Museu de Ciência e Indústria, em Chicago, antes de rodar por todo o país.

O que não quer dizer que a série não tenha causado controvérsia.

As histórias geralmente eram centradas em crimes violentos, muitos de natureza sexual. Em 2003, um conselho de proteção à família elegeu “CSI” o pior seriado da tevê americana para as famílias, citando cenas envolvendo canibalismo, clubes de sexo e assassinatos reais.

Promotores norte-americanos começaram a reclamar de efeitos nos tribunais reais. Alegavam que os juris esperavam uma quantidade irreal de provas forenses. No seriado, os promotores estavam geralmente munidos de exames de sangue perfeitos e quase indiscutíveis traços de DNA coletados na cena do crime. A vida real não é tão simples. O que criou uma reclamação permanente que acabou chamada de “efeito CSI”, que o Instituto Nacional de Justiça chegou a investigar.

“Penso que ‘CSI’ fez grandes coisas pelas investigações médico-legais. Trouxe das sombras para a luz do dia o que fazemos - tanto o que as pessoas não gostariam de saber como o que elas não se importavam que fizéssemos”, disse Mike Murphy, médico legista do condado Clark, em Nevada, cujo escritório serviu de modelo para o “CSI” original.

“Isso também causou alguns problemas. E alguns deles era as pessoas esperarem de nós o resultado de um teste de DNA em 20 minutos e que resolvêssemos um crime em 60 minutos com três comerciais. Isso não acontece assim”, acrescentou.

Queda de qualidade

Mas esses dias ficaram para trás. Nos últimos anos, a série sofreu com declínio de popularidade e, de acordo com o Metacritic, de qualidade.

Essa queda de qualidade é evidenciada pelo misto de reações nas redes sociais com o fim do programa.

Independentemente de como os fãs se sentem sobre o encerramento, uma coisa é cerca: “CSI” ajudou a definir uma era na televisão, que continuará viva enquanto as séries que o imitam continuarem no ar.

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