Desde a saída de Osvaldo Ferreira, no final de 2013, o posto de regente titular da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) está vago. O maestro português ficou três temporadas à frente do grupo, sucedendo Alessandro Sangiorgi (2002-2010), Jamil Maluf (2000-2002), Roberto Duarte (1999) e Osvaldo Colarusso, que regeu por 14 anos como maestro assistente – o primeiro titular da orquestra, fundada em 1985, foi maestro emérito Alceo Bocchino (1918-2013).
A OSP vem se apresentando apenas com regentes convidados enquanto chega a um consenso interno sobre quem deve convidar para assumir a posição em 2016. O processo não é simples: o nome escolhido, que provavelmente será um dos que terão passado pelo pódio do Guairão em 2014 e 2015, deve reunir uma série de atributos para atender às particularidades da orquestra paranaense.
Experiência
Para assumir uma instituição como a OSP, o regente precisa ter uma qualidade musical reconhecida e experiência com orquestras da mesma dimensão, conforme explica o compositor e musicólogo Harry Crowl. “Tenho acompanhado a trajetória de maestros muito jovens em orquestras de primeiro escalão que esbarram em problemas muito graves, especialmente quando não conhecem uma determinada obra. É preciso um regente com um certo traquejo, pelo repertório e pela visão de mundo, que só o tempo dá”, diz o músico, que cita como exemplo o maestro Roberto Tibiriçá.
Habilidade política
Na opinião do pianista Alvaro Siviero e do crítico cultural e professor da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) André Egg, o próximo maestro também precisa conhecer a realidade brasileira, ter capacidade de atrair patrocínios e habilidade política para melhorar as condições de trabalho do grupo – que atualmente depende de um projeto da Lei Rouanet elaborado por um de seus músicos para conseguir montar uma programação artística relevante, já que os recursos destinados pelo governo do estado ao Centro Cultural Teatro Guaíra são insuficientes. Para Siviero, um nome com este perfil é Leandro Carvalho, da Orquestra do Estado do Mato Grosso.
Sangue novo
Assim como o trabalho de formação de plateia, a regência e a direção artística de uma orquestra precisa de novas ideias e ousadia, de acordo com Siviero. “Existem figuras carimbadas, que são mesmo competentes, mas que estão sempre trocando da orquestra A para a B, para a C, e daí por diante. E fica aquele jogo de cadeiras em que não ventila”, explica o pianista, citando como referência o jovem e experiente regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, Victor Hugo Toro.
Olho no público
Além de agradar os fãs de carteirinha da OSP, o novo regente – que também deve se envolver com a direção artística, atualmente nas mãos de uma comissão –, precisa estar de olho em novos públicos para a música clássica. Na opinião da pesquisadora de história da música Liana Justus, que trabalha há 20 anos com formação de plateia, a missão envolve desde concertos didáticos até ações fora do teatro. Ela diz que a própria OSP tem em seus quadros um maestro que faria bem este trabalho – o violinista e spalla Paulo Torres.
Apoio à música brasileira
Para André Egg, as orquestras do país têm a obrigação de equilibrar o repertório tradicional com compositores brasileiros – incluindo os contemporâneos, que têm ainda menos espaço. De acordo com Harry Crowl, um dos bons divulgadores e intérpretes competentes da música brasileira tem sido Cláudio Cruz, regente e diretor musical da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo – e, desde 2015, diretor artístico da fase erudita da Oficina de Música de Curitiba.
Empatia
Depois de anos trabalhando com maestros que foram nomeados sem que participassem da escolha, são os músicos que, afinal, deverão indicar o novo regente (que pode ou não estar disponível, é importante ressaltar). Por isso, e tendo em vista o histórico no mundo todo de desgaste nesta relação de gênios por vezes voluntariosos, o novo maestro precisa comandar e ser querido pelos músicos ao mesmo tempo. Um destes nomes, de acordo com Harry Crowl, é o turco-húngaro Alpaslan Ertüngealp, que foi convidado da sinfônica paranaense nas três últimas temporadas.
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