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Heitor Dhalia: cineasta pernambucano vinha buscando uma oportunidade em Hollywood desde 2004 | Fotos: Divulgação
Heitor Dhalia: cineasta pernambucano vinha buscando uma oportunidade em Hollywood desde 2004| Foto: Fotos: Divulgação

Saga da Serra Pelada é nova empreitada

Antes de pensar em seu próximo projeto em Hollywood ("Continuo recebendo roteiros"), Heitor Dhalia tem um leão bem maior e complexo para enfrentar: Serra Pelada, superprodução da Paranoid Filmes (empresa de Heitor com Tatiana Quintella e Patrick Siaretta) e que terá Wagner Moura (Tropa de Elite) como coprodutor e protagonista.O filme, que terá distribuição no país da Warner Bros., contará a história da maior mina a céu aberto dos tempos modernos, no ano de 1978. "Um acontecimento histórico que tem tudo a ver com o Brasil de hoje. Até a história do Eike Batista tem suas raízes lá."

A trama terá como protagonistas os amigos Javier e Joaquim, que partem do Rio de Janeiro com o sonho de garimpar ouro e chegam à Amazônia, como milhares de outros homens. A mina muda tudo em suas vidas e eles acabam destruídos pela obsessão de enriquecer. (PC)

  • A atriz Amanda Seyfried interpreta Jill, uma garota que precisa enfrentar um serial killer

O cineasta pernambucano Heitor Dhalia, que, aos 42 anos, acaba de lançar nos Estados Unidos seu primeiro filme realizado em Hollywood, o thriller 12 Horas, faz questão de não glamourizar a experiência. Diz que aprendeu muito, repetiria a dose, mas viveu na pele o que é ser apenas um diretor contratado. Em entrevista realizada na última semana em São Paulo, ele comparou a em­­preitada aos serviços prestados por um matador de aluguel.

Em uma analogia no mínimo curiosa, mas que parece fazer total sentido, Dhalia disse que enquanto há os cineastas que agem como serial killers, movidos por uma patologia que lhes é inerente, tomados por um instinto doentio que não conseguem controlar e motivações muito pessoais, há outros realizadores que, apesar de apaixonados, "ma­­tam sob encomenda". Agem em nome de interesses que não são seus. Ainda que o ato, em si, lhes traga prazer e lhes interesse.

Dessa forma pouco ortodoxa, Dhalia, autor de filmes como Cheiro do Ralo e À Deriva, obras de perfil mais cult e autoral, descreveu a empreitada que resultou em 12 Horas (Gone, no original), longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros no dia 6 de abril.

Também roteirista de seus filmes, e acostumado à liberdade criativa permitida pelo cinema que se faz no Brasil, onde não existe propriamente uma indústria, Dhalia teve de se adequar a um determinado modus operandi que, embora não seja o único, ainda predomina no cinema norte-americano. Foi obrigado, por contrato, a se submeter às vontades, mandos e desmandos do produtor que o contratou, no caso Tom Rosenberg, executivo da indústria que venceu o Oscar com Menina de Ouro, de Clint Eastwood.

Estrela

12 Horas conta história de Jill, uma jovem estudante que teria sido sequestrada, mantida em cativeiro no fundo de um poço no meio de uma floresta urbana, onde outras garotas de sua idade teriam sido torturadas e mortas. Em um momento de descuido de seu algoz, ela teria conseguido escapar, mas, ao ser encontrada, não conseguiu convencer a polícia do acontecido. Por não haver provas materiais, as autoridades apostam mais em um surto psicótico, a enviam a uma clínica psiquiátrica para tratamento e dão o caso como encerrado.

Desestruturada, e sempre sob medicação muito pesada, Jill tenta dar continuidade a sua vida, trabalhando como garçonete, mas tomando aulas de defesa pessoal: como o sequestrador não foi preso, ela tem medo de um dia ter de enfrentá-lo novamente.

Apesar de viver em estado de constante sobressalto, tudo parece correr relativamente bem até que, em uma noite na qual trabalha até o fim da madrugada, sua irmã, Molly (Emily Wickerson), desaparece e Jill tem certeza de que a moça teria sido levada, equivocadamente, por seu raptor.

O problema é que ninguém parece acreditar nessa hipótese e Jill, disposta a encontrar a irmã antes que ela seja morta, passa a ser vista não como vítima, mas como ameaça. Uma louca à solta.

Dahlia conta que, de posse do roteiro escrito por Allison Burnett (de Anjos da Noite: O Despertar), Rosenberg precisava de uma jovem estrela em ascensão para o papel de Jill, para, assim, conseguir alavancar o projeto. O sim de Amanda Seyfried (de Mamma Mia! e Cartas para Julieta), portanto, foi definitivo para que o filme saísse do papel e o produtor partisse em busca de um diretor.

"Havia pelo menos uns 30 cineastas no páreo, na maioria americanos, muitos com filmes de estúdio no currículo. Por algum motivo, acabei sendo escolhido", conta o pernambucano, que vinha cavando uma oportunidade em Hollywood desde 2004, quando lançou seu primeiro longa-metragem, Nina, estrelado pela curitibana Guta Stresser.

"O filme foi exibido no Festival de Los Angeles e agentes se interessaram em me representar. Mas eu tinha um problema: não falava inglês. Então, voltei ao Brasil, passei dois anos estudando o idioma todos os dias, além de me aprofundar em dramaturgia, até que Cheiro do Ralo (2006) foi selecionado para o Festival de Sundance, e eu passei a trabalhar com a Creative Artists Agency (CAA, uma das principais agências do ramo). Quase fiz dois outros filmes, mas os projetos não deram em nada."

Controle

O diretor conta que há vários motivos pelos quais um produtor hollywoodiano pode escolher um talento estrangeiro para dirigir seu projeto. Mas o principal deles é a possibilidade concreta de que, ao lhe dar essa "oportunidade de ouro", ele peça em troca controle total sobre a obra. Esse foi o caso de 12 Horas.

Para se ter uma ideia, Dhalia jamais teve a chance de conversar a sós com Amanda Seyfried ("Uma fofa, superprofissional, com quem me dei muito bem!") sem a presença de Rosenberg. "O elenco, sobretudo os atores principais, são os elementos fundamentais em uma produção, e os mais sensíveis, vulneráveis. Os produtores não podem se dar ao luxo de que algo inesperado ocorra, ou de que o diretor os convença a fazer algo diferente do esperado."

Da direção de arte à escolha do elenco principal, passando pelo tratamento do roteiro, Dhalia conta que teve muito pouco espaço para opinar. "Minha única e grande escolha foi aceitar fazer o filme", confessou, entre risos. E, ao ser indagado se há em 12 Horas algo de seu, uma marca mais autoral, Dhalia é sincero. Diz que apenas conseguiu se impor de alguma forma por conta de sua dedicação ao processo de preparação que antecedeu as filmagens, realizadas na cidade de Portland, no estado de Oregon, noroeste dos EUA, onde o diretor morou durante quase um ano.

"Como não tive a opção de trazer ninguém com quem costumo trabalhar, enviei ao diretor de fotografia [Michael Grady, de Amizade Colorida], mais acostumado a fazer comédias, um gênero solar, um estudo, com sugestões de paleta de cores. Já que 12 Horas é um thriller, um filme de serial killer, quis trabalhar com variações de preto e cores mais frias, como verde e azul. E isso, de certa forma, está lá", diz.

Mesmo tendo sido uma experiência tensa, difícil em vários aspectos, sobretudo por conta da total falta de controle sobre o resultado final, Dhalia diz que que pretende trabalhar de novo em Hollywood. "Só que, da próxima vez, quero fazer algumas exigências, tentar negociar mais liberdade criativa."

O repórter viajou a convite da Paris Filmes.

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